A opinião de ...

Agora chuto aqui: Chicotadas psicológicas

 
Tal como outros mundos, o mundo do futebol funciona num contexto de imprevistos, de incertezas, e até de relativa incompreensão.
Com efeito, no futebol, tal como na política, o que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira, levando a concluir que, mesmo tratando-se de uma actividade desportiva, está repleto de ambiguidades, de contradições e, sobretudo, de falta de credibilidade. Bem diferente, portanto, da filosofia inerente aos princípios elementares do desporto.
Vem isto a propósito das mudanças de treinadores, ou mesmo das “chicotadas psicológicas” a que é comum assistir-se no futebol.
Como diz o povo, “por tudo e por nada”, já se assiste à mudança de técnico, nesta ou naquela colectividade, como se, na maioria dos casos, fosse, desse modo, encontrada a solução mágica para resolver os problemas de uma equipa de futebol, sobretudo quando os resultados competitivos não são os esperados.
Se é certo que, algumas vezes, as alterações nas lideranças técnicas parecem resultar, mesmo que o mérito não seja, por inteiro, do novo técnico, ou equipa técnica, que substitui a anterior, não é menos verdade que são inúmeros os casos que “é pior a emenda que o soneto”.
Tendo em conta as evoluções que se têm verificado no sector futebolístico, em que tudo deve ser devidamente programado, a tomada de posição dos responsáveis directivos, relativamente à demissão/substituição de uma equipa técnica deveria ser objectiva e sustentadamente ponderada.
É que, às vezes, demite-se um e contrata-se novo técnico por “dá cá aquela palha”, sem, sequer, ter em conta o trabalho que o primeiro desenvolveu e aquele que poderá vir a desenvolver de uma forma mais ou menos sustentada, não salvaguardando, sequer, as eventuais estratégias e planificações entretanto já iniciadas.
Mas será que, num clube de futebol, só os resultados competitivos menos bons, que acontecem numa determinada fase de uma temporada, ou no final da mesma, são suficientemente importantes/determinantes para o futuro da colectividade?!... É óbvio que as coisas não poderão ser vistas dessa forma, pois há muitas outras variáveis a ter em conta, que não devem ser menosprezadas.
Porém, como é do conhecimento público, raramente são equacionadas outras soluções, salvo a destituição pura e simples de um técnico, mesmo que essa decisão implique mais encargos financeiros para as respectivas agremiações desportivas, muitas delas a passar por situações confrangedoras, a esse nível. 
Por outro lado, não haverá, muitas vezes, pressões externas que nada têm a ver com resultados, mas sim com interesses pessoais/particulares, para que se verifique uma mudança ao nível técnico?!...
Neste contexto, penso que também deveriam ser postas em causa as aptidões/competências, bem como os desempenhos de muitos dirigentes, demonstrando, nalguns casos, muita falta de capacidade para dirigir e gerir os recursos humanos das colectividades. Aliás, neste domínio, existe muita falta de preparação, a diversos níveis, mesmo até no que toca à formação cívica e desportiva, para não falar na ausência de criatividade e dinamismo associativo.
Assim sendo, é caso para perguntar, quantas vezes é demitido, ou se demite o presidente de um clube por causa dos maus resultados?!... Poucas, incomparavelmente.
Acredito, contudo que, em determinadas situações, as mudanças possam resultar em desfechos positivos, nomeadamente quando existe conhecimento, sintonia e honestidade no trabalho, de modo a que possam ser desenvolvidos planos de actividade, com identidade, com os quais podem sair beneficiados, os clubes, os atletas e até a própria comunidade.
 

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