A opinião de ...

Despedimentos milionários!...

Que o futebol deve ser uma autêntica festa do desporto, já todos sabemos. Aliás, teoricamente, ninguém terá dívidas sobre a bondade inerente ao espírito e à atividade desportiva, quando tudo acontece de boa fé e sustentado na justiça social.
Além de outros aspetos, as bandeiras do desportivismo devem potenciar os valores da convivência pacífica entre todas as pessoas, da união dos povos, da rejeição do racismo e da desigualdade laboral e económica.
Claro que, em teoria, não há qualquer problema e qualquer pessoa alinha, formalmente, nesta filosofia. Nos púlpitos das conferências, ou conferências de imprensa, não se torna muito difícil falar, divagar!... Muitas vezes com discursos repetitivos, formatados e sem valores…mesmos acrescentados!... Assistimos, até, a posturas absoluta hipocrisia, doentia!... Mas pacificamente aceite!...
Às vezes dou por mim a refletir e a interrogar-me como é que certas coisas, que me parecem pouco transparentes, violando os princípios da moral, da solidariedade e da ética, contrariando, assim, os mais elementares valores, podem acontecer no mundo do desporto, nomeadamente do futebol.
Inês Pedrosa, no seu livro – romance – intitulado “Fazes-me Falta”, faz a pergunta: “Porque é que a vida não é tão transparente como um jogo de futebol?...” Pois, sem pôr em causa o contexto da escritora, não me parece que um jogo e os meandros do futebol sejam lá muitos transparentes. E as provas estão à vista, por esse mundo fora!.. Até porque a mesma romancista, nesse mesmo livro, também se refere ao futebol salientando que: “...era parecido com a verdade. Mesmo com árbitros comprados. Ou com notas correndo em rios gordurosos debaixo de rios fiscais, empresários, advogados. Mesmo quando se tornou um negócio…”
Na verdade, tal como acontece noutras áreas, o futebol que, quando eu era criança ainda se jogava, muitas vezes, com uma bola feita de trapos, ou mesmo até de cortiça, já não é o que era. Deixou de ser transparente…cristalino, antes, em muitas situações, “malino”, como dizia um senhor da minha aldeia, em tempos que já lá vão, mas que, já na altura, tinha a sua razão!..
Embora as situações sejam múltiplas e aconteçam com desagradável regularidade, não posso deixar de comentar, neste contexto, indemnizações milionárias, que se verificam no mundo da bola, na sequência de rescisões de contratos.
Um dos últimos casos, mais conhecidos, foi o do ex-selecionador nacional, Paulo Bento. Digamos que se trata, apenas de um caso típico, entre muitos.
Pois bem, não obstante os chorudos prémios e vencimentos que terá faturado, de uma instituição nacional, que é nossa, dos portugueses, durante o tempo em que foi seu (?!...) servidor, para deixar o cargo, ainda recebeu, ao que consta, uma indemnização que terá rondado os 500.000.00 (Quinhentos mil) Euros.
Ora, se fizermos bem as contas, se o “prémio” para um funcionário, ao serviço de Portugal, deixar as funções, que mediocremente exercia, e cuja produtividade ficou, por conseguinte, aquém dos objetivos/expetativas, daria para pagar muitos milhares de salários mínimos, quanto daqueles que usufruem do Rendimento Social de Inserção ficariam felizes com umas simples “migalhas” dessa fortuna?! …
É, também, por estas e por muitas outras semelhantes, que, na sociedade em que vivemos, se irão acentuar, ainda mais, as desigualdades e as injustiças, tornando este mundo ainda mais cruel e menos solidário.
De facto, a vida é dramática, principalmente para os desfavorecidos, desprotegidos, enquanto para outros, poucos, …iluminados…protegidos….

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