A opinião de ...

Levar a carta a Garcia

A programação do novo ano escutista exige que se faça com o envolvimento de todos, ouvindo o que tem a dizer os jovens.
Numa destas reuniões de direção a Assistência Espiritual e Religiosa apelou ao reforço da dinâmica da fé, de modo a incentivar os escuteiros a inserirem-se mais na vida comunitária das suas paróquias, a participar ativamente na Eucaristia Dominical, a frequentar a Catequese e, a tomar parte nos grandes acontecimentos paroquiais. Dizia um dirigente: “eu poderei acompanhar alguns que são meus vizinhos, levando-os comigo”. Outro conclui: “não! Porque não desafiamos os guias de patrulha e, deixamos que sejam eles a «levar a carta a Garcia» [*], como ensinou Baden Powell [BP]? Pergunta ao rapaz, «ask the boy», ou não fosse este um dos atos mais ousados do Chefe escuta, como referia BP. Confiemos-lhe a missão e, deixemos que sejam eles a motivar os seus elementos e, por patrulhas, reforcem o seu compromisso, no final avaliemos o resultado.”
Tolentino de Mendonça, no Expresso [23/09/22], a propósito da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, apresenta um estudo recente do Instituto Giuseppe Toniolo [Milão], que aborda o tema os jovens e a procura espiritual. Os autores do estudo, diz o Cardeal, falam de quatro surpresas que emergem: a primeira, os jovens demonstram uma forte sensibilidade espiritual; a segunda, entre sensibilidades superficiais, tem outras associadas a um horizonte de sentido que qualifique a inteira existência; a terceira, não excluem propriamente Deus, procuram-No-fora do âmbito tradicional da experiência religiosa; a quarta, sem que isso exprima obrigatoriamente narcisismo, os jovens não separam a procura espiritual da procura deles próprios e da sua identidade.
Será que o Chefe escuta está preparado para acompanhar o ritmo dos jovens? Será que os guias, tal como Rowan que levou a carta a Garcia, cumprirão com êxito a sua missão? Diz BP: “Rowan era verdadeiro explorador. O escuteiro deve proceder como ele ao cumprir uma ordem que lhe dão por muito difícil que lhe pareça, deve procurar cumpri-la com um sorriso. Quanto mais difícil for a missão, mais interessante será executá-la”.

[*] – Durante a Guerra Hispano-Americana, 1898, o presidente dos EUA, William McKinley, precisou de entrar em contacto com o líder da guerrilha cubana, o general Garcia, que se encontrava nas montanhas de Cuba. Sem correio, ou telégrafo, McKinley mandou chamar um jovem explorador chamado Rowan e deu-lhe uma carta para entregar a Garcia. Rowan, sem temer distância nem saber a localização do general, pegou na carta, guardou-a e, após uma série de peripécias e aventuras, entregou a carta a Garcia e, finalmente, regressou aos EUA. Rowan, de facto, demonstrou grande capacidade de iniciativa e espírito empreendedor. Pela sua imensa vontade de querer cumprir a missão, a missão foi cumprida e com êxito.

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