Porque perdoar não é humano
Gostava de convidar o leitor na humildade desta minha reflexão, a redescobrir o perdão na sua dimensão espiritual e no alcance vital, curativo e renovador que ele contempla.
Gostava de convidar o leitor na humildade desta minha reflexão, a redescobrir o perdão na sua dimensão espiritual e no alcance vital, curativo e renovador que ele contempla.
O tempo santo da Quaresma é uma oportunidade, única e irrepetível, de mudança positiva nas nossas vidas. A santa Quaresma é, essencialmente, renovadora e transformadora da alma, transfigura-nos com o rosto de Cristo Jesus convidando-nos incessantemente à libertação do velho, da matéria, do ego, e para o nascimento de algo completamente novo e belo. Esta dinâmica de morte/vida e crucificação/ressurreição é uma tensão permanente neste tempo santo.
Gostava de fazer esta reflexão a partir do seguinte trecho do Evangelho de São Lucas: “Tende cuidado convosco, não suceda que os vossos corações se tornem pesados com a intemperança, a embriaguez e as preocupações da vida e esse dia não vos surpreenda subitamente como uma armadilha” (Lc 21, 34). Gosto, em especial, de ler o último Evangelho de cada Ano Litúrgico. Este texto sagrado gerou em mim a consciência acerca do perigo em pensarmos que somos, apenas e só, personagens da nossa própria vida ou da nossa própria história.
em hoje, deprimido pelo passado que foi e na ansiedade do que há de ser. Paralelamente, olhamos para o presente como uma oportunidade de fruir o mais possível como se não houvesse amanhã, como se tudo se cingisse às vivências desenfreadas das emoções e das sensações corpóreas. Tudo muito poroso, na verdade...
“O amor tem uma forma de cruz”. Bela esta expressão. O amor, em vez de ter a forma do coração, tem a forma da cruz. Nos tempos actuais e na cultura dominante a cruz está fora de moda. A cruz é escandalosa! O mundo de hoje rejeita a cruz e não concebe que o acto maior de amar implica – sempre – abraçar a cruz. Na verdade, a cruz recorda-nos como é árduo e trabalhoso amar, onde a opção pelo amor nos exige sempre tudo.
Permitam que partilhe convosco esta ‘nova’ experiência – algo assética – de celebrar a solenidade de Todos os Santos e dos Fiéis Defuntos sem a comunhão (entenda-se, comum união), física e visível, da comunidade orante. Sabemos – e bem – de todas as restrições cívicas colocadas aos fiéis e à comunidade em geral para a celebração destas efemérides.
Neste contexto tão peculiar, tão diferente e tão incerto, o existencialismo humano assume redobrada importância e um renovado espaço reflexivo nos fóruns íntimos e sociais da pessoa e da comunidade.
Depois de ler o mais recente livro de Bernard-Henri Lévy (“Este vírus que nos enlouquece”) – que, aliás, muito recomendo – fiquei maravilhado com a ousadia e a argúcia com que este filósofo contemporâneo soube abordar, quer do ponto de vista social, quer do ponto de vista político, o tão eclético, transversal e polémico tema do ´fique em casa’ e do ‘politicamente correcto’.
Nestes tempos marcados pelo “distanciamento social”, medida largamente promovida e propagada pelas autoridades civis e de saúde, convém lembrar que a pessoa humana – ser social por natureza – nutre-se pela presença e pelas relações variadas de partilha e de encontro. Temo que esta expressão – “distanciamento social” – venha acentuar as demais assimetrias sociais.