Macedo de Cavaleiros

Jornadas de Balsamão discutiram a hospitalidade transmontana

Publicado por António G. Rodrigues em Qui, 10/23/2025 - 14:16

A hospitalidade transmontana, plasmada na expressão “entre, quem é?”, popularizada pelo escritor Miguel Torga, esteve em discussão na edição deste ano das Jornadas de Balsamão, que decorreram naquele convento do concelho de Macedo de Cavaleiros, no passado fim de semana, sob o tema “À mesa transmontana”.
“A expressão ‘entre quem é’, que é de alguma maneira imortalizada na obra de Miguel Torga, mais especificamente no Reino Maravilhoso, alude à hospitalidade transmontana, ao bem receber. A porta estava sempre aberta e qualquer barulho que alguém fizesse ao tentar visitar tinha como resposta “entre quem é”. Portanto, a abertura e a hospitalidade está completamente plasmada nessa expressão”, sublinhou Assunção Anes Morais.
A investigadora notou, ainda, que a expressão foi perdendo peso com o correr do tempo. “Era ótimo que essa expressão tivesse ainda hoje o mesmo sentir, mas hoje sabemos que há mais reserva, há sobretudo alguma insegurança. E as pessoas reservam-se a dizer isso, simplesmente até porque a porta deixa de estar totalmente aberta como estava anteriormente”, disse.

Esta foi a edição mais participada dos últimos anos e José Manuel Silva Rosa, da Universidade da Beira Interior e um dos elementos da organização, sublinhou que o que se pretendeu foi “dizer que a mesa transmontana não são apenas as comidas, as bebidas, não são apenas os lugares onde são confecionadas, não são apenas os terrenos. ou as corriças onde há os animais, onde há as batatas, os feijões, é também o modo de estar à mesa”. Isto é, “tem a ver com a gastronomia, no sentido que é um ato cultural por excelência”. “Quer dizer, nós não estamos à mesa como os recos, não estamos à mesa como as cabras, o modo humano de estar à mesa é um modo qualificado, é um modo cultural. E, portanto, estar à mesa transmontana significa que é o modo transmontano de estar à mesa. Portanto, de comer, de beber, de partilhar, de unir a mesa. Aqui não é apenas o móvel. O móvel aqui é para ser transfigurado. É uma instância de relação. Uma instância onde não temos só a comida, mas temos também a palavra. A palavra é um dos ingredientes fundamentais da mesa. Aliás, mesa, o objeto, em princípio, tem quatro pernas, indicam um lugar no espaço, mas mesa também é o mês, também é a quadratura do mês. O mês divide-se em quatro semanas, essas semanas é como cada perna do tempo. Portanto, estar à mesa significa comer, beber, mas ter tempo para os outros, estar em relação, querer partilhar do corpo e do espírito”, sublinhou.

Foi ainda apresentado o livro das atas da edição anterior, que versou sobre as migrações.
Esta 23.ª edição contou com cerca de 60 participantes. “Foram as jornadas mais concorridas. No sábado em Vinhais e em Vila Boa foi um sucesso...”, sublinhou Luís Vale, também da organização.

O mesmo responsável revelou que o tema das próximas jornadas vai ser “a festa em Trás-os-Montes”.

“As diferentes dimensões da “festa” na região. Este é o tema decidido democraticamente. Agora a comissão organizadora vai estruturar e construir o programa”, explicou.

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