Futebol

Treinador mirandelense defende mais apoios para melhorar o desporto na região

Publicado por Fernando Pires em Seg, 2023-07-24 14:27

“Tenho a certeza de que se as instituições com responsabilidade social, públicas e privadas e outras organizações da sociedade e da comunidade no nosso distrito se unissem, sem olhar a credos e a partidos e lutar por trazer para a nossa região melhores condições e regalias sociais, industriais e escolares, esta diferenciação positiva poderia trazer a massa humana que necessitamos e, depois, seria uma questão de as pessoas continuarem a trabalhar em conjunto e revitalizarem a economia, para dessa forma se revitalizar o desporto e a cultura. Sem pessoas dificilmente, poderemos fazer seja o que for.”

O diagnóstico é traçado pelo treinador mirandelense, Carlos Silvestre, que já passou por clubes como o SC Mirandela, Vitória FC (Setúbal), entre outros, em entrevista ao Mensageiro.
“Há, urgentemente, a necessidade de se sentarem à mesma mesa, todos os responsáveis das instituições e organizações e outras pessoas da sociedade civil transmontana e traçar um rumo de desenvolvimento regional, mostrando ao poder político nacional, que queremos continuar a existir”, defende.

Carlos Silvestre vai mais longe e propõe, mesmo, um campeonato transmontano, com equipas "das associações de Bragança e Vila Real".

"Ao nível do futebol, uma das formas de poder resolver a falta de equipas que o nosso campeonato distrital sofre e sofrerá cada vez mais, sobretudo, a nível sénior e também de forma a dar uma maior competitividade aos nossos campeonatos distritais em todos os escalões, seria interessante juntar os campeonatos distritais da associação de futebol de Bragança e de Vila Real", disse.

O antigo guarda-redes, com vários campeonatos distritais no currículo, entende que “quem gosta de futebol, tem de ficar bastante apreensivo em relação ao Distrital”. “Claro que não me refiro sequer à Associação de Futebol de Bragança. Também acrescento que a culpa não é em exclusivo de ninguém ligado ao futebol. Isso deve-se, sobretudo, à grande desertificação das regiões do interior de Portugal, onde, talvez a nossa região seja a mais, fortemente, prejudicada, facto que me leva a ficar bastante preocupado por saber que dificilmente se poderá inverter esta tendência de desertificação e de falta de crianças e jovens. Esta falta de pessoas não vai melhorar este estado desportivo (no caso o futebol) e isso entristece-me sobremaneira, pois não me permite fazer aquilo que mais gosto, na vida: treinar (antes era mesmo jogar)”, defende.

Com uma carreira de treinador iniciada “há exatamente 20 anos”, quando pendurou as luvas definitivamente, Carlos Silvestre acumula a experiência em campo com a atividade docente (é professor) e sindical (é dirigente do SEPLEU, o sindicato dos educadores e professores licenciados pelas escolas superiores de educação e universidades).

Por isso, considera que “o desporto em geral e o futebol em particular é fundamental na formação de qualquer cidadão”.

“Para pessoas como eu, por exemplo, cujos pais (pessoas simples da aldeia) nada tinham e por consequência eu nada tinha, ter a possibilidade, oportunidade e sorte de ter algum jeito para o desporto (neste caso o futebol), é um enorme pontapé de saída para dar a conhecer o “mundo” e uma vida melhor. O futebol foi, na altura, extremamente importante para me abrir horizontes e eu poder conhecer o país, e, depois, como sénior, poder ir mais longe, num ou noutro jogo das Taças de Portugal”, explica.

“Outra vantagem do desporto e do futebol, por ser um desporto coletivo, é, por paradoxal que pareça, o valor da educação e do respeito pelo próximo e por si mesmo que o futebol transmite. A par disso dá, também a responsabilidade, a organização, a gestão do tempo (estudar e jogar), a necessidade de comunicação, o trabalho em prol do outro - o trabalhar o Nós em vez do Eu -, a solidariedade, a entreajuda, a amizade que nos leva ao ponto de dizermos que somos uma família. Claro que é preciso fazer alguns sacrifícios: deitar cedo; as grandes “sovas físicas” nas pré-épocas e em alguns dias da semana, também, não nos davam muita vontade de sair”, acrescenta.

Dos vários jogadores que lhe passaram pelas mãos, alguns são bem conhecidos do público, como o argentino Andrés Madrid, que jogou no SC Mirandela.

“Todos foram importantes na minha formação e na minha vida e a todos trago comigo e que de todos tenho saudades. Contudo, posso dizer, sem querer desvalorizar nenhum dos jogadores que tive a sorte e a felicidade de treinar, o mais conhecido foi o Andrés Madrid, no SCM. Mesmo com a sua enorme experiência e estatuto, sempre aceitou, com humildade, as minhas orientações e pedidos. Depois o Pedro Fernandes, um enorme GR, que foi internacional (que jogou nas seleções jovens de Portugal com o Cristiano Ronaldo), e que é uma excelente pessoa e amigo que muito admiro pela sua humildade e carácter, pelo seu profissionalismo e dedicação. Nunca puxou dos seus galões (com o passado dele podia ser fácil), e sempre aceitou nos 4 anos que o treinei, tudo o que lhe pedi para fazer. O Pedro também está a construir a sua vida académica e futura a partir do futebol. Outro fantástico ser humano que tive a sorte de treinar e ser amigo, é o enorme e sempre GR do GDB, o Ximena. Finalmente, treinei no Vitória (de Setúbal) alguns craques que andam por aí na 2ª, 3ª ou 1ª Liga. Um deles é o João Valido, internacional, é, atualmente, um dos GR do FC Arouca na 1ª Liga”, conclui.

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