A opinião de ...

O sindicalismo hoje

Longe vão os tempos em que sindicalistas aprovaram um documento que ficou conhecido como Carta de Amiens, no qual exigiam jornada de trabalho de oito horas, aumento de salários, completa independência dos partidos políticos e do Estado. Estávamos no ano de 1906.
Os tempos foram mudando, o movimento sindical conheceu agruras, morte violenta de trabalhadores, misérias humanas de cedências incluindo traições, dissidências, assaltos ao seu poder por partidos e estados, em suma: quer à esquerda, quer à direita os sindicatos emanados da célebre Carta, acabaram golpeados, ficando a serem resumidas equações no tocante a importância política. Uns senhores conhecidos por George Demitroff e Togliatti esforçaram-se (com êxito) a dogmatizarem o movimento dos trabalhadores no pós II Guerra Mundial, conseguindo colocar um grande número de sindicatos e confederações sindicais a vogarem na órbita comunista, deixando aos movimentos católicos algumas talhadas de influência, lutando com todas armas incluindo os punhos no intenso esforço de reduzir a cinzas os sindicatos socialistas. De modo sintético quantos slogans de encher de propaganda de duplo sentido as salas e comícios de “encanar a perna” à rã porque tudo foi decidido antes de estar decidido.
O anquisolamento dos sindicatos iniciou-se logo a seguir à revolução de Abril, lembro a querela da unicidade sindical, a reacção da carta aberta parindo a UGT, a partir daí cresceu e cresce o número de trabalhadores fugidos à inscrição sindical, até à irrupção dos sindicatos ditos amarelos. O conceito de amarelos vem dos primórdios da história dos trabalhadores, quanto à sua eficácia, a greve «selvagem» dos motoristas de pesados obriga-nos a reflectir sobre o «novo» mundo do trabalho em profunda alteridade em pleno e resoluto vigor digital.
O teletrabalho veio para ficar, o emprego perene esfumou-se, o múnus das profissões sofre recomposições a todo o instante, o operariado de colarinho azul está a passar à categoria de branco (mesmo nas oficinas), os visionários de ontem dormem o sono de quem foi ultrapassado pelos sonhos. A ciência e a tecnologia correm velozmente, o pensamento mastiga lentamente o progresso. Que assim continue!

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3830

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