A opinião de ...

Reflexões de António Jorge Nunes

O meu amigo Doutor Telmo Moreno convidou-me a integrar a lista à Assembleia Municipal de Bragança, aceitei de imediato. A razão do meu entusiasmo tinha duplo fundamento, por um lado extravasar naquele órgão autárquico tudo quanto vinha escrevendo no jornal então dirigido pelo Dr. Guedes de Almeida, pois não me conformava com o piedoso epíteto de a cidade ter passado a ser conhecida como Brandoa do Norte. Por outro contribuir para a sua reabilitação no âmbito das indústrias da cultura área onde trabalhava em vários projectos.
A cidade ao fim de oito anos de governação socialista exibia numerosos aleijões urbanísticos, fragmentos de património perdido ou escalavrado (azulejaria, ausência ou deformações estéticas, bairros periféricos dignos dos arredores de Bogotá ou São Paulo), o meu pai morava no então conspurcado Bairro da Coxa, visitá-lo significava carro em solavancos lamacentos e pestíferos, sapatos e vestuário a espanejarem pústulas pastosas de terra, barro e água no Inverno, nuvens de pó no Verão. Muito boa gente sofreu tratos de polé em virtude da degradação do burgo, a cidade estava a perder a alma.
Apesar de todas as peripécias da campanha eleitoral em que não participei o PSD conseguiu vencer a disputa embora sem maioria na Assembleia Municipal o que representava risco acrescido dada a acrimónia reinante.
No dia 6 de Janeiro deu-se a tomada de posse, logo no derramar da sessão Telmo Moreno logrou ser eleito Presidente da Assembleia assestando profundo golpe de estilete (fura fundo) na bancada socialista e assim continuou durante quatro anos.
Naquele friorento dia conheci o Engenheiro António Jorge Nunes, pouco a pouco, de degrau em degrau, de recíproca troca de opiniões e de análises acerca do papel das cidades do interior, tudo isso, de mútuo respeito e lealdade, cerzimos uma sólida amizade que muito me consola, especialmente nas horas amargas como estas da nefanda pandemia.
O seu livro Reflexões e Contributos para o Desenvolvimento Regional do Interior, é a visão bem documentada de um especialista na área do fortalecimento regional na linha de Ferreira Deusdado e Vergílio Taborda cujos trabalhos primaram pela honestidade científica e intelectual na explanação dos pontos fortes e fracos do terrunho transmontano e nos legaram lúcida proposta de actuação no que tange ao sufoco e/ou aplainamento das assimetrias relativamente aos territórios «pra lá do Marão» do obra Marânus do multifacetado autor da Arte de ser Português, Teixeira de Pascoaes.
Num País liberto de teias de aranha ideológicas e partidárias, as Reflexões seriam discutidas sem reserva mental nas Escolas. Só que neste velho reino «sem emenda» a inveja floresce a eito no seio dos pseudo e aculturados do tal reino da estupidez que se dá ao luxo de não tirar proveito da experiência e o saber do autor destas pertinentes e valiosas Reflexões. Luís António Verney continua a ter razão!

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3816

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