A opinião de ...

A Tortura da carne

Nos meus tempos de cineclubista entre as centenas de filmes visionados figura o dramalhão Tortura da Carne de Victor Fleming realizador de obras que os amantes da sétima Arte deviam ver, caso de Joana d’Arc.
Nestes tempos de pandemia revisitei alguns clássicos, a lembrei-me da Tortura da Carne a propósito dos intermináveis noticiários televisivos misturada de sinais contrários, de opiniões abstrusas de leigos em matéria de epidemias ao modo dos treinadores de bancada e dos génios de bagatelas em volta das mesas dos cafés. A cacofonia vem de longe, futebol, economia e política, preenchem horas e horas da programação dos canais das estações de rádio e televisão onde tagarelas femininas e masculinos colocam a um canto as mulheres de soalheiro das nossas aldeias onde ainda existem.
Para lá das fastidiosas palavras dos manipuladores de opinião pagos ao quilo das palavras pronunciadas temos de adicionar as claques matutinas, as dos concursos premiados em géneros alimentícios, as viagens estão suspensas em virtude da virulência do vírus, sem esquecer a verborreia dos animadores de pista (apresentadores) e os meus congéneres dos dois sexos de cabeças canosas. Se contabilizarmos as horas de emissão dos canais de melhores audiências, o número de horas é tão grande quanto é o apetite do Novo Banco relativamente a deglutir milhões e milhões de euros que mais tarde ou mais cedo vamos pagar com ou sem língua de palmo.
Ante a avalancha que escapatória resta ao enclausurados por prudência, medo e doenças de vários matizes? O leitor dirá: fechar os aparelhos, em sua substituição lerem, rezarem, ouvirem música, tricotarem. Jardinarem e/ou passearem sem colocarem de lado a promessa de cozinharem. Muito bem, as propostas são quatro estações, ninguém fica de fora, pensará o senhor de La Palice. Ficam, ficam. Os interessados em saberem de maneira sóbria, aprofundada e rigorosa como vai o Mundo da governação, dos negócios, da justiça, da cultura, da ciência, da religião, enfim de todas as áreas do conhecimento num labor enciclopedista de formação do gosto escorado no bom senso dos sages inimigos da farandula tão presente nas organizações que critico.
Sem pedir permissão o Estado obriga-nos a pagar muitos milhões do gasto nessa mesma grande farra onde o justo paga pelo pecador. A comunicação social do interior, regional ou local recebe migalhas, os glutões abocanham os grandes pedaços do bolo, por isso mesmo dizem as boas línguas que André Ventura se converteu em moeda de troca.

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