A opinião de ...

À beira do tudo ou nada

Decorrido um ano depois do aparecimento desta pandemia maldita, que uns tantos Calinos malévola e irresponsavelmente, classificaram como um vulgar “resfriadinho”, apesar do muito que se tem dito e escrito, continua a assombrar o nosso futuro uma incerteza cada vez mais assustadora, que nos condiciona e tortura com uma dúvida angustiante sobre o que nos espera, ficando sempre a sensação de que os responsáveis deixam sempre alguma coisa por dizer.
Nesta situação dramática em que nos encontramos, por mais que isso possa custar a dizer e a ouvir, sem poupar nas palavras e sem sofismas nem falsos alarmismos, chegou a hora de assumir o risco inegável que corremos e de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para evitar que este pandemónio se transforme numa catástrofe global, capaz de por em rico a sobrevivência da própria humanidade.
Estará tudo perdido? Vamos acreditar que ainda não mas, porque as perspetivas de futuro próximo estão cada vez mais sombrias, bem ao contrário do que erradamente se tem feito, não se pode continuar a condicionar o comportamento das pessoas em função duma qualquer promessa provinciana de um Natal com muitas prendinhas ou de um Verão de papo para o ar numa qualquer praia de Matosinhos, de Cascais ou do Algarve, sendo da responsabilidade de todos, individual ou coletivamente a obrigação duma escolha ponderada, responsável e inteligente de entre as alternativas que nos restam:
Para não desperdiçar os trabalhos, as privações e os sacrifícios por que todos passámos no último ano, para nossa proteção e de todas as outras pessoas, continuar a resistir e a lutar, ainda que numa guerra desigual, traiçoeira e invisível, sem regras, sem quartel e sem fronteiras, contra um inimigo impiedoso, com todas as armas que estão ao nosso alcance, coisas tão simples como usar as máscaras, cumprir o distanciamento social e a etiqueta respiratória, evitar as festas, os convívios e os aglomerados desnecessários de pessoas, bem como os restaurantes, os locais mal ventilados ou os transportes sobrelotados.
Ou antes, numa atitude de irresponsabilidade criminosa, continuar a sobrecarregar o Serviço Nacional de Saúde com as consequências das nossas asneiras, ignorando, ou fingindo ignorar, a sua perigosa situação de eminente pré derrocada, já sem capacidade de resposta para o que dele se está a exigir e que só está em pé porque continua suportado pela dedicação dos seus profissionais de saúde e de todos os colaboradores que os apoiam, como os técnicos auxiliares, os bombeiros, as forças de segurança, o INEM etc. , muitos do quais, no limiar da exaustão, necessitam urgentemente de parar para descansar e recuperar do brutal trabalho com que estão sobrecarregados.
Aqui chegados, é só pegar ou largar porque, se nada for feito, depois de esgotada a capacidade das morgues e dos crematórios, depois de carregados a monte no mais completo anonimato, num qualquer camião de transporte de despojos inúteis, teremos todos como destino a mesma sepultura humilhante na mais triste e miserável das valas comuns, aberta à pressa num qualquer terreno baldio, e por visitas os abutres e demais aves de rapina.
Será isto que nós queremos? A resposta poderá não ficar nas nossas mãos por muito mais tempo.

Edição
3819

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