Escutas, a imagem duma Justiça atolada em contradições
Como que nascida do nada, a recente polémica vinda a público, sobre a validade e a licitude das escutas que levaram à demissão do Dr. António Costa e da consequente queda do governo de maioria de que ele era Primeiro Ministro, desabou como um tornado sobre o todo sistema da justiça, pondo a nu muitas das suas fraquezas, insuficiências, debilidades e contradições, cujos sintomas, que já se manifestavam desde há demasiado tempo, eram tantos e tão evidentes, que é difícil compreender, e muito menos ainda de justificar, como se permitiu que as coisas estivessem tanto tempo sem ser denunciadas.
Quando num país como o nosso, onde por dá cá aquela palha, tantas vezes por questiúnculas de lana caprina, mais ridículas e insignificantes do que discutir o sexo dos anjos, a comunicação social mobiliza batalhões de correspondentes, repórteres e comentadores durantes horas, dias e até semanas, para coscuvilhar a vida das pessoas até aos pormenores mais escabrosos, dá que pensar como foi possível que uma situação desta dimensão e gravidade, fosse ignorada por tanta gente e por tanto tempo.
Se alguém souber, conte que a gente agrade.
Não menos estranho, incompreensível e censurável, é constatar como todas as entidades competentes e com a obrigação de o fazer, sabe-se lá bem porquê, para quê, por influência ou em interesse de quem, ou por que carga de água, preferiram fazer de conta e fingir que não se passava nada e tudo estava a rolar sobre esferas.
Enfim são as opções de cada um, respeitáveis até se provar o contrário.
Contudo, neste caso, ao que parece, repito, ao que parece, a confirmarem-se as informações vindas a público, o sensacionalismo e a especulação gerada à volta destas escutas, sem esquecer que, até prova em contrário, todos os arguidos têm direito à presunção da sua inocência, é provável que as coisas poderão não se cingir apenas ao que já veio a lume.
Atendendo às figuras públicas que, direta ou indiretamente estão envolvidas, cuja reputação e bom nome foram postos em causa, mesmo dando de barato a hipótese peregrina, de que tudo isto se resumirá a uma simples rajada de tiros, disparados pelos caçadores desportivos num dos muitos torneios de tiro aos pratos, realizados em muitas das nossas terras nas festas do Verão, o certo é que as coisas poderão mesmo acabar por muito negras.
Para já e para evitar todo o tipo de especulações, exige-se que instituições como o Ministério Público, Os Tribunais e a Polícia Judiciária rapidamente façam o trabalho que lhes compete e, para evitar mais atoardas e especulações, logo que possível, facultem ao público todas as explicações que tiverem de ser facultadas e a que o público tem pleno direito.
Até novos desenvolvimentos, vamos esperar para ver.
