A opinião de ...

Do Brexit ao atascón

A semana passada (21 a 26 de Junho) foi dominada por trêss acontecimentos na Europa: referendo no Reino Unido (RU) sobre permanência ou saída da UE; eleições em Espanha (por atascón ou impasse governativo); e o torneio europeu de futebol em selecções nacionais (Euro 2016) em que Portugal está representado.
O referendo do RU aconteceu no dia 23. Venceu a saída da UE (Brexit). Penso que é uma má decisão mas também penso que é um voto contra três coisas: 1) excesso de imigração e descaracterização da sociedade britânica; 2) temor às intenções hegemónicas da Alemanha; 3) protesto contra o centralismo e contra a burocracia de Bruxelas, uma ditadura neoliberal e neocapitalista, com linguagem e ares socialistas, para repasto da Alemanha e dos usurpadores da democracia na Europa.
Não sei como foi possível promoverem um referendo aceitando como boa uma maioria de 50%+1 de votos em 50%+1 de eleitores (23.250.000) sem cuidarem de garantir que, numa decisão tão fracturante, a decisão fosse vinculada ao voto favorável de pelo menos 50%+1 desses eleitores Foi cumprido o primeiro critério (votaram 71,9% dos eleitores, ou seja, 33.578.016) mas a decisão de saída só foi tomada pelo voto favorável de 17.410.742 pessoas, o equivalente a apenas 36,86% dos eleitores. Razão para o movimento emergente no sentido da realização de um novo referendo.
Geográfica, social e intergeracionalmente, o referendo foi muito fracturante: as regiões de Londres, da Escócia e do País de Gales votaram pela permanência. Os jovens entre os 18 e os 24 anos votaram 75% a favor da permanência; os adultos entre 25 e 49 anos 57% a favor da permanência; os adultos entre 50 e 64 anos votaram 44% a favor da permanência e os com 65 ou mais anos, 39%. A Escócia já anunciou a convocação de um referendo sobre a independência. Os jovens acusam os mais velhos de os privarem da possibilidade de trabalhar em 27 países. E não acredito, face à evidência das muitas convulsões internas, que algum político britânico accione o artigo 50 do Tratado de Lisboa, solicitando a saída da EU.
O atascón (impasse) político de Dezembro, em Espanha, desencadeou novas eleições, em 26 de Junho. E manteve-se o impasse com resultados quase idênticos. O PP, nosso PSD, elegeu 137 deputados; o PSOE, nosso PS, elegeu 85; o Unidos Podemos, nosso PCP e nosso BE, elegeu 71; e o Ciudadanos, nosso CDS, 32; depois, há deputados em pequenos partidos, os quais podem ajudar a constituir uma maioria à esquerda, o que é pouco expectável, mas não suficientes para a constituir com o PP. Conclusão: tudo como dantes, quartel general na Zarzuela, a residência oficial de Sua Majestade. É mais um facto negativo a perturbar a já debilitada Europa e a agravar a crise económica europeia e mundial e, com maior gravidade, a portuguesa.
No Euro 2016, os nossos representantes ajudam, pelas vitórias, o povo a aliviar o sofrimento económico e político. Costa e a geringonça agradecem o alívio da tensão pelo máximo tempo possível.

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