A opinião de ...

Em causa própria

Muitas foram as notícias e os protestos sobre as comemorações do 1.º de maio da CGTP na Alameda. Para as sustentar apareceram nas redes sociais várias fotografias mas nenhuma delas demonstrava qualquer desrespeito flagrante às regras determinadas pela Direção Regional de Saúde. Nunca tive dúvida que, perante o foco em que sabiam ir estar, os dirigentes da Central Sindical iriam assegurar que assim seria. Não houve risco de contágio na Alameda!
Mas, igualmente, não havia qualquer risco de contágio quando o Belarmino Cerejeira foi intercetado à saída da Ponte Vinte e Cinco de Abril, no mesmo dia 1 de maio quando ia, juntamente com a sua esposa, “apanhar um pouco de ar de mar” à Costa da Caparica. Têm, junto à praia um pequeno apartamento, comprado a prestações e que lhes adoça os fins de semana da merecida reforma. Não se ia encontrar com ninguém nem assumiria qualquer risco, GARANTIDAMENTE, mas teve de voltar à sua residência, em Lisboa onde a falta de sol e de iodo lhes amarga ainda mais o doloroso confinamento. O guarda Pires percebeu isso perfeitamente mas, dura lex sed lex, não facilitou e mandou-o inverter a marcha.

Será difícil encontrar em Portugal alguém que saiba mais de futebol do que Jorge Nuno Pinto da Costa. Recentemente afirmou publicamente: “Se o futebol não puder voltar, então não pode voltar atividade nenhuma”. Pensar que existem várias atividades cujo exercício implique menor distanciamento social, menores deslocações de grupo e menores contactos pessoais entre pessoas passíveis de estarem contaminados só pode ser erro meu baseado no meu desconhecimento dos meandros do chamado “desporto rei”. Pinto da Costa, seguramente sabe como fazê-lo e vai assegurar que assim será. E pode, segundo ele, ser feito de forma eficiente, com regras bem “menos exigentes” que as impostas pela DGS, consideradas, por isso mesmo, manifestamente exageradas.
Quando questionado sobre o possível cancelamento da Festa do Avante, Jerónimo de Sousa afasta total e radicalmente tal cenário. A Festa, afinal não é uma festa, é um comício e, sendo comício político não apresenta qualquer risco de contágio. Palavra de honra de político. Podemos confiar porque a organização tem uma inesgotável imaginação. A minha dificuldade de vislumbrar possíveis soluções efetivamente seguras, mais uma vez, revelam o meu limitado conhecimento da matéria em causa e reduzida capacidade de imaginação.

Muitas das ações que faço hoje (e uma enormidade de portugueses), sei, sabemos, seguramente serem desnecessárias e não apresentarem nenhum risco. Mas mesmo assim fazemo-las porque só um comportamento generalizado (mesmo que na sua maioria exagerado) garante a necessária proteção. As leis têm de ser genéricas e não podem contemplar exceções em número exagerado mesmo que cada uma delas fosse razoável e atendível.
Além de que é fácil comprovar o velho rifão popular de que ninguém é bom juiz em causa própria. Seguramente que não. E não vem daí nenhum mal ao mundo... exceto se o juiz puder não só julgar como ainda fazer a lei pela qual se há de reger ou influenciar quem o faça.

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