A opinião de ...

Empreendedorismo

Portugal é um país com um enorme déficit de empreendedores.
 
É em tempos de crise (e são várias as que atravessámos recentemente) que o empreendedorismo aparece na boca de vários gurus, responsáveis políticos e alguns ditos empreendedores de que um certo Miguel Gonçalves de Braga foi o exemplo que um outro Miguel, ex-ministro e de Lisboa, nos brindou há algum tempo atrás.
Garantia o empreendedor minhoto, conhecido pela expressão de bater punho, que o problema da crise da nação se resolveria facilmente com jovens empreendedores. Houvesse-os e quisessem eles. O drama estava na sua falta.
 
Ora é aqui que não bate a bota com a perdigota. Como muito bem referia, há algum tempo, um douto professor que tive numa pós-graduação na Universidade Católica, há mais empresas que portugueses. Basta consultar o numero de contribuinte que é sequencial, começado em 500 000 000 e que nesta altura é superior a 513 000 000. Perguntou o docente quem, na sala, era empresário. Ninguém! Portanto havendo muito mais empresas que empresários e como, a avaliar pela amostra, muitíssimos portugueses não arriscavam constituir uma, só se poderia concluir que havendo poucos empreendedores os que existem são altamente produtivos e eficazes, pelo menos a criar empresas novas.
 
Contudo tal ímpeto, tal eficiência e produtividade, não animava, nem anima, de forma proporcional a economia nacional. Mistério que afinal, notícias que vêem a luz do dia e que recentemente se vêm multiplicando, vão desvendando e tornando claro o que parecia obscuro e aparentemente contraditório. Há efetivamente muitas empresas. E são, muitas delas, fundadas, promovidas e detidas  por alguns poucos. E pouco contribuem, imensas, para o PIB nacional. Existem apenas e pouca atividade têm quando não estão simplesmente adormecidas. Servem para quê? Para selar compromissos, para arregimentar personalidades, para aproveitar oportunidades (se vierem a existir), para terem ligações ao poder, seja ele pretérito ou simplesmente promitente e futuro. Como se viu no célebre caso da Tecnoforma e do falado Centro de Cooperação, como se vê nas empresas sem atividade mas com ligações a personalidades influentes e com acesso aos corredores do poder que o recente escândalo à volta dos vistos gold de residência, como fica claro quando é publicado o registo de interesses de gente importante geralmente com pertença a uma extensa lista de Conselhos Fiscais, Assembleias de Acionistas e mesmo como sócios de empresas mais ou menos conhecidas.
 
Empresas há. E muitas. O problema é que muitas delas em vez de gerarem emprego, atividade económica, mais valias, mais riqueza, servem para entretecer laços com o poder. E, ao que parece, os parceiros procurados não são só os que estão ou estiveram na esfera do governo mas começam já a ser arregimentados os que se supõe poderem vir ocupar uma cadeira de relevo na gestão da coisa pública. Não admira que o seu nascimento e proliferação rivalize com cogumelos em outono húmido e quente.

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