A opinião de ...

Graça Freitas

Há, nesta saga de combate à Covid uma imagem marcante: o principal conselheiro científico de Boris Johnsons (Patrick Vallence se a memória não me atraiçoa) a sair do número 10 de Downing Street com algumas pastas debaixo do braço a ser assediado por jornalistas que pretendiam saber as razões do plano governamental, tão diverso (mas não totalmente inédito) para enfrentar a pandemia. Patrick nem os olhou. Murmurou qualquer coisa, prometeu que a seu tempo falaria, mas nada de concreto disse. Absolutamente nada. É suposto (o contrário seria impensável) ter justificações científicas para suportar o trajecto que aconselhou o primeiro-ministro britânico a trilhar. Nem nessa altura nem mais tarde quando o governo arrepiou caminho. Nunca mais tive notícias do homem e muito menos sei de qualquer conferência ou anúncios públicos sobre a matéria. Foi sempre Boris Johnson ou o seu ministro dos Negócios Estrangeiros que deram a cara e assumiram, perante os britânicos, todas as opções, avanços e recuos que aconteceram nesta matéria.
Panorama radicalmente diferente aconteceu em Portugal.
Desde o início que a médica e cientista, Maria da Graça Gregório de Freitas se apresentou perante todos nós dizendo, com uma clareza cristalina e sem quaisquer desculpas ou subterfúgios tudo quanto sabia (que, sendo pouco, relativamente ao que hoje se sabe e, necessariamente se há de saber nos tempos mais próximos, era muito para o que na altura era do conhecimento público) e aconselhando sobre as medidas a tomar e traduzindo para linguagem comum as várias descobertas que iam sendo feitas. Sem desfalecimentos, sem escusas, sem se esconder atrás de nada nem de ninguém. Boas justificações teria para reclamar tal estatuto, mesmo que esporádica e episodicamente. O cansaço, que os seus olhos não conseguiam esconder, não atemorizaram nem derrubaram esta mulher, aparentemente franzina, ex-fumadora, vinda recentemente de uma dura luta contra o cancro. Muito menos a atemorizaram as inúmeras, injustas e violentas críticas com que foi zurzida na praça pública.
Apontam-lhe falhas, apreciações deficientes, contradições e alterações de rumo. É curioso observar que quem mais a critica, são comentadores e alguns políticos que, sem os conhecimentos que ela, indubitavelmente, tem, nesta matéria já disseram quase tudo e o seu contrário. Agora é fácil procurar declarações supostamente menos felizes, à luz do que hoje se sabe. À segunda-feira qualquer um acerta no totobola! Contudo há algo que devia ser explicado por esses mestres da crítica e implacáveis juízes do comportamento alheio: em Portugal, ao contrário de outros países, Graça Freitas sempre esteve na linha da frente e alinhada com as medidas tomadas (e bem) pelo governo. Se a Directora Geral de Saúde é tão pouco competente, como se explicam então os bons resultados conseguidos no nosso país?
Eu sinto-me confortado com as indicações recebidas e, claro, no início não adquiri nenhuma máscara, porque faziam falta a gente mais precisada e não era recomendável usá-la mas agora já as tenho para usar com regularidade.
Para rematar, não posso deixar de citar Constantino Sakellarides, um dos mais reputados especialistas em saúde pública e que a propósito de Graça Freitas lembra que “a maior qualidade que podemos ter é a modéstia intelectual” e que lhe assenta como uma luva. E que igualmente nos lembra que “pensávamos há duas semanas coisas que não pensamos hoje”.
Todos nós!

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