A opinião de ...

O novo normal!

Apesar dos avisos, mais ou menos alarmista de muitos especialistas, foi-se sedimentando a ideia, a esperança, a expectativa de que após o confinamento, passado que fosse um período, mais ou menos longo, mas razoável, de desconfinamento, controlado, tudo regressaria ao normal. As declarações otimistas de muitos, na sua maioria políticos, sempre ansiosos por anunciarem paraísos e, como habitualmente, pouco preocupados na consistência e exequibilidade das suas promessas, conjugadas com o que parecia ser um recuo consistente e sustentado da pandemia, fez-nos acreditar que o retorno ao modo de vida passado e recente, era possível e estava próximo.
Rapidamente se verificou que a diminuição de infeção não era segura nem permanente. Ao mesmo tempo que em vários locais se extinguiam cadeias de contaminação, noutros surgiam, inesperada e exasperantemente, novos focos de contágio. Os valores que um dia desciam, no seguinte subiam e, mesmo que assumindo uma tendência descendente, não atingiam os valores irrelevantes pretendidos. Ao mesmo tempo as condições de contenção não desapareciam e só muito ao de leve iam retrocedendo. A necessidade de retoma económica esbarrava sempre com o fantasma real do retrocesso no combate à pandemia como se viu em vários locais, cá e, sobretudo, lá fora, como aconteceu, recentemente, em Espanha e França.
O anúncio recorrente de estar iminente a descoberta de uma vacina, irritantemente, não se concretizava. A tão pretendida imunidade também marcava passo e os valores não descolavam situando-se em níveis demasiado afastados dos pretendidos e confortáveis 70%, necessários para o retorno à normalidade.
Gabriela Gomes, atualmente na Universidade de Strathclyde na Escócia e que passou pelo IGC tendo, nessa altura, ido a Vila-Flor explicar os mecanismos da gripe e promover o inovador programa gripenet, veio, esta semana, aumentar-nos a esperança numa normalização mais célere. A investigadora contesta os cálculos apresentados até agora e que apontam para a necessidade de existência de anti-corpos em pelo menos 70% da população porque, segundo ela, esse valor vai evoluindo (diminuindo) com a progressão da pandemia. Sem contestar os valores iniciais, chama a atenção para um facto que parece óbvio: nem todos os indivíduos têm a mesma suscetibilidade ou igual grau de exposição ao vírus. A própria história desta pandemia assim o demonstrou, na prática. Ora como são os mais suscetíveis quem, naturalmente, serão infetados, em primeiro lugar, são estes quem mais cedo ganham imunidade, deixando de ser suscetíveis fazendo baixar o nível médio de suscetibilidade. Este valor continuará a descer à medida que a doença se desenvolve e dispersa. Disto resultará o desaceleramento do crescimento de casos e com isso, o limiar da imunidade coletiva irá, dinamicamente, descendo.
Ao contrário de outros “arautos” de boas novas, Gabriela tem créditos na matéria pois foi, há alguns anos, galardoada com um dos prémios milionários da União Europeia para desenvolvimento dos seus estudos teóricos, depois de ter demonstrado que havia um erro (que ela corrigiu) no cálculo do limiar de re-infeção de algumas doenças e oferecendo uma solução lógica e científica para aparentes contradições entre as previsões teóricas, feitas até, então e a realidade observada.

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