A opinião de ...

Uma senhora do Norte

 
Em 2011 a Fundação Calouste Gulbenkian galardoou o médico Fernando Pádua e a médica Maria Amélia Duarte Ferreira com o prémio Gulbenkian Educação. Fernando Pádua é sobejamente conhecido pelo seu papel preponderante e percursor na Medicina Preventiva em Portugal. Em Maria Amélia, o Juri, valorizou os seus contributos para o substancial aumento do sucesso escolar e profissional dos estudantes e para a melhoria das competências pedagógicas dos docentes. Qualidades relevantes em pedagogia, formação e gestão ter-lhe-ão sido igualmente creditadas pelos seus pares que a escolheram para dirigir a prestigiada Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (a única mulher a ascender a este lugar, nos seus quase 200 anos de existência).
 
Numa breve entrevista à Antena 1, no passado dia 28 de Outubro, em poucas palavras  definiu a sua marca de qualidade. Esta mulher do norte, como assumidamente costuma apresentar-se, orgulhosa do que chama os ícones distintivos da região (no seu entender, o Futebol Clube do Porto, o vinho do Porto e, obviamente a sua Faculdade de Medicina) brindou os ouvintes com duas frases marcantes. A primeira foi o anúncio da instituição, no Curso Médico que dirige, de uma cadeira de voluntariado, para tornar o exercício da medicina mais compassivo, criativo, humano e ético. Com o claro objetivo de integrar os estudantes de medicina no mundo onde vão exercer a sua profissão/missão. Claro que os médicos deverão ser profissionais competentes e técnicamente capazes. Mas igualmente terão de ser humanos, carinhosos e sensíveis.
Quando questionada sobre os cortes orçamentais para a educação, em vez de fazer coro com o choradinho habitual, falou sobre o assunto de forma séria e pragmática. Assumindo que há um limite abaixo do qual não é possível garantir a qualidade exigida a todo o ensino e, por maioria de razão, em medicina, em vez de se refugiar no queixume justificador, afirmou-se determinada em rever a estrutura de custos da Universidade esperançada na possibilidade de os reduzir, racionalizando e alterando processos. Não só para se adequar aos meios disponíveis como, inclusivé, para elevar o nível da prestação de serviço de todos os colaboradores.
 
É de gente assim que este depauperado país precisa.
Sendo mulher garante-nos a sensibilidade, humanidade e determinação femininas.
Sendo do norte enche-nos, naturalmente, de orgulho.
 

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