Linguagem e Poder
Por interesse pessoal e pela oportunidade do tempo social que ocorre, obtive o texto Discurso e Mudança Social, de Norman Fairclough, linguista britânico, professor emérito na Universidade de Lancaster, cofundador da Análise Crítica do Discurso. Trata-se de uma tradução do texto inglês, efetuada por uma equipa coordenada por Izabel Magalhães, da Editora da Universidade de Brasília, com data de 2001, Pp. 88-90.
Não pretendo enfadar os leitores do MdB, mas somente lançar breves ideias sobre o tema em epigrafe, com interesse ao longo dos tempos, e, em particular, nos nossos dias, a ocidente e a oriente, a norte e a sul. Entre nós, igualmente. Basta estar atento ao discurso que nos invade quotidianamente, em catadupas de palavras, com uma carga profunda, mobilizadora, que pode moldar a nossa vida relacional, provocando vínculos de que, frequentemente, nem nos damos conta. São as mensagens publicitárias, são discursos panfletários, são invetivas contra os partidos, em nome não se sabe bem de quê.
Escrevo “discurso” para significar, segundo aquele linguista, o «uso de linguagem como forma de prática social, um modo de ação em que as pessoas podem agir sobre o mundo e especialmente sobre os outros; o discurso contribui para construir as relações sociais entre as pessoas». O uso do discurso aponta caminhos, pretende influenciar e criar sistemas identitários e unificadores, que podem prejudicar a reflexão. A linguagem, carregada de argumentos, falsos ou verdadeiros, tende a aproximar ou a afastar, e, muitas vezes, como atualmente se observa, utilizando violências verbais.
Ora, há declarações específicas de políticos portugueses a defender, mais ou menos explicitamente, o debate sem racionalidade, sem crítica. Alguns usam e martelam palavras, pretensamente fortes, para criticar outras ideias políticas. As palavras parecem simples, mas provocam um profundo impacto. As palavras que usam no dia a dia são capazes de moldar emoções, fortalecer (ou enfraquecer) vínculos, influenciar comportamentos. Quando se utiliza a linguagem de forma consciente, criam-se pontes capazes de promover bem-estar, ou, ao contrário, criam-se distopias para criticar os “outros”, apresentando um futuro sombrio e caótico e alertando para um futuro pior, caso as tendências atuais continuem. À saciedade, sim, à saciedade, repetem expressões como: “eu sou capaz”, “eu mereço ser alternativa” – o que tem um efeito catalisador, ainda que artificioso, medíocre, acompanhado pelo gesto largo, pelo dedo estendido, pela expressão facial, pela postura corpórea.
Tudo é uma falácia intencional. Relembro, por ser oportuno, as ideias do filósofo Karl Popper (O Conhecimento e Problema Corpo-Mente, edições 70, 1997, Pp. 156-160), filósofo austro-britânico, racionalista crítico, contrário à discussão sem racionalidade: «A alternativa ao debate crítico é a violência e a guerra». Se o ser humano é a medida e o fim de toda a actividade humana, a política tem de estar ao serviço da sua inteira realização. Parece, pois, estarmos longe do que defende, por exemplo, a Doutrina Social da Igreja, ou, ainda, das ideias e do pensamento humanista que se seguiu à Segunda Grande Guerra. O ser humano relaciona-se sempre com o outro com base na discussão sadia e paciente.
