A opinião de ...

O Papa crê que Deus fala à Igreja pelos jovens

O Papa Francisco decidiu escutar os jovens e incitou o Sínodo dos Bispos a refle-tir sobre o que os jovens têm para dizer. Os jovens falaram e disseram que querem ser “ouvidos, reconhecidos, acompanhados” pela hierarquia da Igreja, como diz o docu-mento final do sínodo.
Em Roma, com humildade, os bispos reconheceram que, tanto eles como os pa-dres – sobrecarregados com inúmeras atividades – não encontram habitualmente tempo para acolher e escutar os jovens. Verificaram, porém, que Deus desafia a Igreja pela juventude. Esta é portadora de uma “santa inquietude” que, em determinadas circuns-tâncias, pode estar até “mais à frente dos pastores”. Graças ao dinamismo juvenil, a Igreja é incitada a renovar-se.
O Sínodo reconheceu também a necessidade de dar à mulher e aos leigos um mai-or protagonismo na Igreja, incluindo-os nos processos de tomada de decisões. Não abre, contudo, a possibilidade da ordenação, seja presbiteral ou diaconal, das mulheres.
Esta última reunião de bispos vindos de todo o mundo foi também marcada pela questão dos abusos sexuais, a que o documento final dedica três parágrafos. Os bispos, depois de condenarem todo o tipo de abusos (“de poder, económicos, de consciência, sexuais”) comprometem-se a falar a verdade, a não os escamotear e a pedir perdão pelas falhas. O Sínodo deixa um apelo ao “firme compromisso com a adoção de rigorosas medidas de prevenção que impeçam o repetir-se dos abusos, a partir da seleção e da formação daqueles a quem serão confiadas tarefas de responsabilidades e educativas”.
A discussão em torno da sexualidade voltou a ser controversa. Apesar de, contra-riamente ao que aconteceu no anterior Sínodo, todos os parágrafos terem obtido a apro-vação com a maioria qualificada de dois terços, o parágrafo 150 foi o que teve o maior número de votos contra (178 a favor e 65 contra). Nele se recomenda que se favoreçam os “caminhos de acompanhamento na fé, já existentes em muitas comunidades cristãs”, de “pessoas homossexuais”.
O documento de preparação do Sínodo – o “Instrumentum Laboris” – ficará para a história como o primeiro texto oficial a incluir a sigla LGBT (lésbicas, gays, bissexu-ais e transexuais). O documento final não inclui essa designação, dada a reação de mui-tos bispos que se manifestaram contra o que poderia parecer uma aceitação da teoria de género pela Igreja. Daí que o Sínodo tenha reafirmado “a determinante relevância an-tropológica da diferença e reciprocidade homem-mulher e considera redutivo definir a identidade das pessoas com base unicamente na sua orientação sexual”.
Para além das questões eventualmente mais polémicas, é de realçar o destaque que o documento deste Sínodo deu ao “acompanhamento” das pessoas, valorizando nesse processo os contributos da psicologia e da psicoterapia, desde que com abertura à transcendência. Recomenda que se promova a formação de pessoas que possam ser acompanhantes equilibrados, com uma grande capacidade de escuta, pessoas de fé pro-funda e com uma vida de oração intensa.
No encerramento, o Papa sublinhou que o documento tem de ser “rezado e estu-dado”. Nele, as diferentes conferências episcopais são desafiadas a corresponder à exi-gência dos jovens serem acompanhados e escutados, sem “moralismos” nem facilitis-mos.

Edição
3703

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