A opinião de ...

Pobreza, desigualdade, violência

Se há palavras que, nos últimos 25 anos, têm entrado no léxico sócio-político, «Pobreza», «Desigualdade», «Violência» parecem ter a primazia. Por isso, a Comissão Justiça e Paz da Diocese de Bragança-Miranda vai promover uma sessão de reflexão sobre elas no próximo dia 10, às 10h30, no Salão de Festas da Escola Secundária Emídeo Garcia, à luz dos valores da Doutrina Social da Igreja Católica.
São palavras indesejáveis, para a grande maioria dos cidadãos. Como outras quaisquer, para poucos. Inevitáveis, para os ricos com ideias liberais-económicas.
Quem quer uma sociedade justa e baseada na reciprocidade sabe que a pobreza é indesejável porque é inimiga da igualdade, mesmo de uma igualdade aproximativa. Os que querem uma sociedade pacífica, baseada no respeito mútuo, sabem que a violência é filha, a maioria das vezes, da pobreza, da desigualdade, da desintegração social, embora haja muita violência com outras origens.
Há 70 anos que os países do centro da Europa começaram a construir programas sócio-políticos de salvaguarda de direitos económicos e sociais mínimos para os mais pobres. Em Portugal, tais direitos sociais remontam apenas a 1974 (ordenado mínimo, pensão social mínima, dispensa do trabalho por nascituro) e os direitos económicos a 1997, ao célebre RMG (Rendimento Mínimo Garantido, hoje RSI (Rendimento Social de Inserção). Hoje, está já em discussão, a nível internacional, o RBI (Rendimento Básico Incondicional) mas ninguém consegue antecipar se, a nível geral, os efeitos socio-económicos dele serão mais benéficos do que maléficos.
A pobreza e a desigualdade têm aumentado sobretudo com a não entrada no e com a exclusão do trabalho. Em Portugal, a pandemia de Covid-19 terá colocado em situação de pobreza mais 500.000 pessoas e o último relatório sobre a pobreza refere um total de 2,170 milhões de pobres (21,4%), colocando em posição supra-vulnerável os idosos e as crianças.
A nível mundial, a exclusão do trabalho e o aumento da pobreza já foram anunciados por Alvin Toffler, em 1969, com o prenúncio da Terceira Vaga e a mecanização que o progresso tecnológico iria trazer promovendo a substituição do homem pela máquina. No final dos anos 90, Michel Crozier e Ervé Sérieyx, em La Crise de l`Intelligence faziam as contas por alto aos excluídos do trabalho na Europa, nos 25 anos entre 1970 e 1995, referindo 70 milhões de pessoas. A quarta vaga, da automação e da robotização, de 2000 para a frente, tem previstos, segundo vários estudos, um desempregado por cada dois trabalhadores...
Num cenário de pobreza e de desigualdade, não admira que a violência, de todos os tipos, aumente. Entre nós, têm sido mais referidas a violência escolar (bullying), a violência sexual, a violência ambiental, a violência de género e, dentro desta, a doméstica. São manifestamente formas de violência que revelam défices económicos, educacionais e culturais gerais e que estão presentes nas duas principais instituições de educação –a Família e a Escola. Razões mais que suficientes para lhes darmos atenção.
Os interessados podem participar online, inscrevendo-se em cjusticaepaz@gmail.com para receber as credenciais de acesso.

Edição
3857

Assinaturas MDB