A opinião de ...

Hospitalidade

Nesta nossa cómoda sociedade atual, apesar de tudo, não caiu em desuso uma das formulações mais felizes que caraterizam o povo transmontano, a sua hospitalidade.
Hospitalidade que a expressão “entre quem é” evidencia tão perfeitamente, apresentando este modo de ser e de estar, identitário e distinto, que vai muito para além de qualquer cliché e que mantém validade contemporânea.
Só quem não conheça, de todo, as pessoas que aqui vivem, pode duvidar deste propósito de vida em que se franqueia, até mais que a porta e a casa, com espontaneidade e desinteresse, a empatia e a sincera vontade de criar e recriar amizade, a ajuda e a solidariedade.
Isto tem conduzido à concretização de ações múltiplas e responsáveis de propiciação de situações e oportunidades para aqueles que queiram vir para aqui estudar, de encontrar trabalho, de estabelecer a sua residência familiar e até, em certos casos, de acolhimento daqueles que fogem das guerras e de situações limite de pobreza.
Contudo, para além do que se realiza durante todo o resto do ano, assim acontece igualmente e de modo proeminente por estes dias de verão, dias de festa e de muitas festas, de reencontros, de abraços, de reconhecimento, de reciprocidade e de referência.
É certo que a vida se transforma um pouco e aquilo que é a rotina tende, obviamente, a alterar-se, a ser menos certinha, ora seja a gastar mais tempo nas compras, a haver menos disponibilidade nos restaurantes, a presenciar um maior volume de trânsito e menos estacionamento (apelando a uma maior paciência e urbanidade), ou a reconhecer uma maior pluralidade de idiomas, etc., mas todos nos sentimos bem e sentimos que assim tem de ser.
Está em causa essa nossa hospitalidade para a presença dos nossos familiares e amigos emigrantes e migrantes e dos milhares de turistas que demandam este nosso território e também de o sermos para nós próprios, que saímos mais a conviver e a sentirmo-nos, porque geralmente em férias, mais atreitos a acompanhar e vivenciar mais momentos de lazer e de diversão.
São dias de equilíbrio do quarteto saudável: serotonina, endorfina, oxitocina e dopamina, o mesmo é dizer, cantar, dançar, rir, abraçar, jogar, comer e beber em conjunto, etc.
São dias, dito de outra maneira, em outro quarteto identicamente saudável, de amizade, de gratuidade, de espiritualidade e de alegria.
São dias de nos colocarmos no lugar do outro, de modo que possa dizer-se que sentir-se acolhido por uma verdadeira e plena hospitalidade é uma das chave de vivência e sobrevivência neste mundo que parece orientar-se para outras correntes de pensamento mais egoístas e conflituosas que dão razão ao que um dia disse Martin Luther King “aprendemos a voar como pássaros, a nadar como peixes mas não aprendemos a sensível arte de conviver como irmãos”.

Edição
3999

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