A opinião de ...

Fundadas Razões de Esperança!

No passado dia vinte e seis do pretérito mês de novembro, foi inaugurado na zona ribeirinha, com grande pompa, o novíssimo Centro Botton-Champalimaud de Investigação e Tratamento do Cancro do Pâncreas. A atenção dos média foi atraída, não só pela quantidade e importância das individualidades presentes, (os mais altos dignitários dos dois países ibéricos, com especial destaque para o casal real espanhol e, do lado português, o Presidente da República, o Presidente da Assembleia e o Primeiro Ministro) mas pela relevância do Centro, único no mundo, no combate ao mais mortífero dos cancros. De uma forma pioneira e inovadora, vai ser estendida ao novo edifício a prática já operacionalizada no anterior, em que a atividade clínica beneficia do desenvolvimento científico, levado a cabo, paredes meias, e vice-versa. A novidade agora está na assunção, desde o início, desse objetivo de forma empenhada, integrada e motivada, possível pela forma como tudo foi planeado bem como do facto da focalização num único tipo de cancro, o do pâncreas. Recordo que, aquando da inauguração do primeiro edifício, há mais de uma dezena de anos, embora a Clínica fosse já vocacionada para a especialização oncológica, a investigação era, à data, exclusivamente em neurociências em que, reconheça-se, começou a ocupar, desde logo, posição entre os centros mais avançados do mundo.
Neste caso, pelo contrário, o grupo investigador do Markus Maeurer já há vários anos que desenvolve investigação nesta área, estando o seu laboratório em condições de ser transferido para o novo edifício, antes ainda do grupo clínico que será o embrião da equipa médica futura e que, ainda nas instalações atuais, já colaboram ativa e cooperativamente.
A expectativa criada à volta deste novo empreendimento e o realce para sua singularidade reside nesta interação próxima e cúmplice que vai permitir, de forma inovadora, não só a integração de conhecimentos científicos na atividade clínica mas também, a partilha do conhecimento médico e das conclusões práticas da sua operação, no desenvolvimento da investigação laboratorial. Mas há um aspeto adicional que, no meu entender, não foi suficientemente relevado. Uma das razões da alta morbilidade do cancro do pâncreas reside na sua localização de difícil acesso e de remoção complexa e arriscada, por causa da existência de vários vasos sanguíneos nas imediações. Pois bem, para além do melhor da ciência, igualmente a tecnologia de ponta vai estar presente no novo centro. Porque, apesar de autónomos, os dois edifícios estão ligados entre si e não é só através de uma passagem no parque de estacionamento. O que já hoje se faz bem nas outras unidades vai igualmente influenciar a atividade desta última.
Tive, recentemente, o privilégio de participar na implementação de uma sala de operação na Unidade da Mama a que se deu o nome de “Immersive Lab” cujo equipamento permitirá a qualquer profissional de saúde, com ajuda de óculos de realidade virtual e realidade aumentada, ter, em tempo real, acesso a uma ou a todas (de acordo com a sua vontade) ajudas: visualizar uma simulação prévia da forma correta de operar, preparada anteriormente; sobrepor as duas imagens (a real e a virtual) e verificar eventuais diferenças; partilhar a ação com um especialista em qualquer parte do mundo; orientar alunos ou praticantes menos experientes.
O que, em situações complexas e críticas, não é de somenos.

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