A opinião de ...

Tostões e Milhões

“Nem mais um cêntimo” sentenciou Luís Montenegro, sinalizando o ato de fechar a torneira ao crescendo de exigências que, é bom não esquecer, foi aberta em campanha eleitoral sem ter havido qualquer referência ao limite máximo da admissibilidade para a concretização das aspirações e ensejos, à correção de injustiças e disparidades. É sabido que a retórica eleiçoeira se baseia na necessidade de não ficar diminuído no leilão de oferta de benesses muitas vezes irrealistas, sobretudo quando trazidas a terreiro por quem, por razões sabidas, sabe que não lhe vai ser exigido cumpri-las. Ninguém ignora, também que não é possível acorrer a todas pretensões, por mais justas e justificadas que sejam. Por maiores que sejam as melhorias na gestão da coisa pública, por mais gorda que seja a folga orçamental do ano anterior (mesmo quando considerada demasiada, dentro do próprio partido que a criou), por mais otimistas que sejam as perspetivas de crescimento e de poupança, há um limite a partir do qual não é possível ir mais longe. Por maior que seja o lençol, não se pode esticar, indefinidamente para tapar tudo e mais alguma coisa, sem começar a destapar algo. Esse é o essencial da governação. Não se trata de acudir a tudo, porque não há capacidade para tanto, mas fazer opções sobre as áreas que devem, em cada caso, sobrepor-se sobre outras que, apesar de importantes e respeitáveis, terão de, agora, de novo, ou, recorrentemente, ficar para trás.

É a vida, dir-se-á. E é.

Ninguém questiona a justeza na recuperação do tempo dos professores (só peca por tardia), na equiparação dos subsídio de risco das forças de segurança (só pode ter reparo por escassez), na atualização salarial dos profissionais de saúde e justiça (tão necessárias de valorização e reconhecimento), porém, como deixar que não mereçam igual atenção e relevo a desertificação galopante do interior, a deterioração das condições de vida dos (ainda) resistentes, a falta de empregos, de médicos de família, de delegações de serviços públicos, de apoio aos mais idosos e crianças e de, em poucas palavras, desenvolvimento deficiente e, nitidamente, a duas velocidades em que o interior fica sempre preterido.
Porém.

O ciclo, acabado de fechar, perentoriamente, pelo Primeiro-Ministro, vai ser reaberto, brevemente, para cabimentar o orçamento do próximo ano e, de novo, se vai falar de milhões e, até, de milhares de milhão. Também aí irão concorrer com as naturais e ansiadas expetativas nordestinas as exigências dos partidos de quem o Executivo depende para fazer passar o documento governamental. Mas, apesar do histórico jogar em desfavor das nossas aspirações, não é de todo descabido esperar que, desta vez possa ser diferente. Havendo outras e ponderosas razões para atingir os justos objetivos que não foram, mesmo assim, atendidas, outras há que, podendo ser menos nobres, ganham justeza por serem as que, estando disponíveis, são as que estão à mão de semear, como é hábito dizer-se. Tendo Montenegro raízes familiares no concelho de Bragança, que clara e abertamente fez saber, quando em campanha e tendo sido este o distrito onde, em termos de representação parlamentar, não sofreu qualquer erosão fruto do crescimento da extrema-direita, é justo pensar que tal nos conceda acesso a alguma discriminação positiva. Estou certo que, mesmo depois de fechada a porta da despensa, por indicação do chefe, Miranda Sarmento há de dar ouvidos quer ao Secretário de Estado residente no distrito, quer ao deputado moncorvense, que, por ser laranja o governo, ascendeu ao primeiro lugar da lista distrital.

Edição
3996

Assinaturas MDB