A opinião de ...

A árvore que não dava frutos

O senhor Augusto andava desmoralizado por causa daquela árvore. Mas, embora desmoralizado, acarinhava uma forte esperança de que ela, um dia, havia de oferecer-lhe os belos e suculentos frutos que alguma vez pensou saborear.
Tinha sido escolhida num viveiro muito afamado cujas plantas, depois de transplantadas e crescidas, eram um encanto, tanto pelo seu aspeto harmonioso como pela fecundidade e deliciosos frutos.
No entanto, aquela árvore foi para o senhor Augusto uma grande desilusão! Por muito que cuidasse dela (tal como cuidava das outras), apenas mostrava ser uma árvore elegante, saudável, florida no tempo da florescência mas nada mais do que isso.
Ora o senhor Augusto não era homem para desistir. Consultou especialistas, e bem no seu íntimo, não deixou morrer a confortante esperança de que, algum dia, havia de sair dali qualquer coisa que o deixasse maravilhado!
Seguindo o conselho desses especialistas (que, afinal, não adiantaram mais nada do que ele já sabia), munido do material necessário, num esforço calculado e medido, pôs em prática o que havia planeado.
Ele e o filho mais velho revolveram-lhe a terra à volta do tronco; e generosamente a estrumaram e regaram. De seguida, procederam ao corte dos ramos velhos (alguns já secos) e outros que lhes pareceu estarem a mais.
Porém, apesar de tudo isto, a árvore, teimosamente continuava a não dar frutos. Mas, se no meio desta teimosia, qualquer um a teria abandonado, o senhor Augusto mostrou que não era “qualquer um”. E por não o ser, mais encorajou a esperança que intimamente sentia.
Mesmo assim, não sabendo mais nada que fazer-lhe, deixou-a à vontade e continuou a cuidar das restantes – essas sim, também lindas quando floriam; mas sempre tão carregadas de frutos que até parecia que os ramos iam partir-se.
Um dia, quase desiludido, mas sem perder a esperança, chamou novamente o filho para terem mais uma conversa sobre a tão esquisita árvore. Quando o filho teve autorização de falar, falou assim:
- Pai, se fosse a si, já tinha mandado cortar a maldita árvore. Só dá trabalho. Mas, como vê, frutos… nada!
- Meu filho, esta árvore ainda nos vai surpreender. Não podemos perder nem a paciência nem a esperança. E após uma breve pausa, fez-se-lhe luz para compreender, finalmente, todo o problema da árvore: faltava-lhe uma palavra amiga! As outras, pelos vistos, não precisavam. Mas aquela…
De um salto pôs-se a correr e num instante estava junto dela. Quase sem fôlego, falou-lhe, de forma encorajante, da beleza e da alegria da vida. Abraçou-a, beijou-a e prometeu-lhe toda a ajuda para que se sentisse feliz.
E a árvore, vendo-se envolvida em tanta amizade e carinho, floriu como as outras e acabou por oferecer ao senhor Augusto os muitos e saborosos frutos – os frutos que ele nunca imaginara saborear!

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3846

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