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A música que embala para a vida

Agosto rima com festa, praia, férias, família, encontros e música. É neste som que tantos de nós nos sentimos embalados. Na harmonia dos sons festivos do verão, somos embalados e conduzidos à natureza da nossa identidade. Cada festa de verão é uma festa de um povo, de uma identidade colectiva, de um ser e de um sentir que une e define.
A verdade é que as pessoas são como a música. Cada um tem o seu tom e o seu timbre: umas mais doces, outras mais melancólicas e outras (até) mais interventivas. Por isso, há algumas que, desde o início, nos fazem apaixonar de forma tão repentina que nos marca e nos cativa. Mas há outras que, estranhando-se inicialmente, acabam por entranhar-se em nós. Sim, as pessoas são como a música! Todas elas são a melodia que nos abre ao mundo, que nos rasga e nos liberta da nossa bolha, da nossa autorreferencialidade.
Ouvir com atenção a voz, o canto e a música de cada coração, permitir-nos-á ter o indizível privilégio de saber apreciar a mais doce e única melodia já alguma vez feita. Na verdade, cada um de nós é uma música que, unida a outra (ou outras), a torna na melodia que pauta a música dos nossos passos e da nossa existência.
Se cada pessoa é feita por Deus para ser escutada e ajudada a ser a música do coração de alguém, também há outras que se entrelaçam numa composição única onde a diversidade de sons e de tons origina o impensável. O caos da individualidade gera a harmonia da melodia do amor. Sim, é o amor aquele que nos ensina que a vida é somente vida quando ela se torna vida na vida de alguém, quando ela se gasta por alguém, quando contagia e edifica, quando se une e se confunde com o amor de Deus.
Entrelaçados como num exultante hino, cada um de nós deve (re)aprender a ser pessoas que pautam a sua vida pelo compasso do amor. Devemos ser a música e a melodia certa no coração de alguém. Este é, talvez, não só o maior desafio das suas vidas, como o mais arriscado e decisivo passo em ordem à construção da sua própria identidade e da identidade de alguém. No entanto, tudo deve estar sustentado na oração e no amor a Deus, Nosso Senhor. Sem Ele, tudo é vago e poroso, inconstante e volátil.
O Papa Francisco, consciente disto, afirmou com sapiência que “compor música é uma metáfora da vida, em que é preciso tanto sintonizar harmoniosamente com os outros, com a sociedade e suas leis, quanto dar espaço à originalidade da maneira de ser e de se expressar de cada um”.
Há tempos encontrei, numa parede na zona histórica de uma cidade, um poema envolvido por diversas mãos que, de forma muito original, apresentam o desejo mais íntimo da pessoa humana e inscrito no coração por Deus. Eis o que dizia o poema: “Que um beijo/guarde os teus sons./Que uma despedida/só seja o reencontro/de tuas mãos com o gozo inquebrantável/de meu peito./Que abraçar-te/seja a fusão da terra/e o edén que é o teu corpo./Que um querer-te leve suspiros ao céu./Não há verão sem beijo”.
O verão rima com histórias, com memórias, com afeto, com amores e desamores. Em cada canto, mesmo nos mais recônditos, encontramos a fome (quase insaciável) de amor que está inscrita em cada coração humano. Esta fome de amar e de ser amado é algo tão nosso e tão forte em nós que o próprio Papa Francisco confirma que “com os seus cantos, vocês fazem emergir ou reemergir esta ‘tensão’ saudável e humana nas almas de tantas pessoas. Afinal, é Deus quem coloca este desejo, esta ‘sede’ em nossos corações. Ele vem ao nosso encontro na nossa caminhada, onde há fome e sede de paz, justiça, liberdade, amor”.

Edição
3999

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