Bragança

Autores transmontanos falecidos foram homenageados no Festival Literário

Publicado por António G. Rodrigues em Qui, 2022-06-02 08:48

O Festival Literário de Bragança passou, ainda, pelas escolas e, no último dia, no sábado, homenageou os sócios honorários e os falecidos da Academia de Letras de Trás-os-Montes, parceira na organização.

Ao todo, foram 13 os autores já falecidos que foram homenageados e 24 sócios honorários, incluindo Adriano Moreira, colaborador do Mensageiro de Bragança.

Entre os nomes recordados, destaque para o de Rogério Rodrigues, antigo jornalista e escritor, de Torre de Moncorvo, que era um dos fundadores da Academia, Amadeu Ferreira, de Miranda do Douro, ou João Sampaio, de Bragança, que durante anos dinamizou a página Correio Transmontano.

A edição deste ano do Festival teve como mote o centenário do nascimento de José Saramago, pelo que a presença da filha, Violante Saramago Matos, e da neta do escritor, Ana Saramago Matos, foi um dos momentos altos desta edição.

“Acho uma homenagem exemplar, com um programa variado, intervenções junto de vários grupos etários, sociais, e parece-me de uma enorme importância a capacidade de criar este tipo de intervenções em zonas do interior, das quais temos sempre a ideia de que não acontece nada mas que não corresponde à verdade. É um programa muito bom como seria em qualquer parte”, frisou a única filha do escritor.

Violante Saramago Matos falou, também, sobre o livro de memórias do escritor galardoado com o Prémio Nobel e apresentou uma exposição de pintura e desenho sobre algumas das histórias relembradas no livro.

"O livro recorda alguns dos ensinamentos, porque o meu pai nunca me deu um açoite, nunca gritou comigo. Deve ter-me dado algum raspanete, como é evidente, mas nunca foi uma educação agressiva, pelo contrário. Foi uma educação de um grande afeto e de um grande significado. Em alguns casos, 60 anos depois, tenho memória das coisas", contou.

"Sempre vi o meu pai a escrever. Nas minhas memórias mais recuadas, ele está à secretária. E havia quadros nas paredes porque a minha mãe era artista plástica.
Quando tomei consciência da importância da sua escrita? Nos anos 80. Corresponde à explosão da escrita. Há coisas anteriores, de que eu gosto, como as crónicas. Algumas são, para mim, peças de excelência e vêm de antes.

Ele vai crescendo, nós também vamos crescendo e percebemos que há ali uma coisa que não é normal, não é vulgar. Começamos a voltar a ler. Há livros que já li três ou quatro vezes, porque é preciso.

O pai foi sempre o pai, apesar de nos termos aborrecido, porque eu era do MRP e ele do PCP, pelo que aquilo não jogava. Coincidiu com o meu casamento, os meus pais separaram-se a seguir e houve um certo afastamento.

No fundo, é nestes anos, que foram poucos, que tudo acontece. Mas o pai ainda hoje está em qualquer livro que eu leia.
A partir dos anos 80 começo a perceber que há ali uma escrita que é outra coisa", recordou.

Por isso, Hernâni Dias, presidente da Câmara de Bragança, que organizou o Festival, fazia, no final, “um balanço muito positivo”.

“Tivemos o privilégio de contar com a presença da filha e da neta, que nos transmitiram um conjunto de informação e sentimentos delas para aquilo que foi a vida de José Saramago e, sobretudo, a sua obra.

Para além disso, o conjunto de iniciativas que tivemos, com exposições, apresentação de livros, palestras, conversas e um aspeto relevante que é o facto de conseguirmos dialogar com as escolas onde vários escritores lá se deslocaram para contactar diretamente com os alunos, e uma outra vertente de podermos estar presentes nos estabelecimentos prisionais, com algumas sessões.

Vemos bem o quão importante chamar essas pessoas para estas iniciativas, proporcionar-lhes momentos diferentes e ver a própria recetividade dessas pessoas, numa lógica de nos tornarmos um festival tão inclusivo. Estamos satisfeitos com o que aconteceu”, frisou.

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