Município homenageou ex-combatentes do concelho

A Câmara Municipal de Vila Flor homenageou os ex-combatentes no ultramar, naturais do concelho, no passado domimgo, com a inauguração das obras de requalificação do momento que lembra os mortos e uma sessão onde foram escutados testemunhos, memórias e apresentados vários livros sobre a guerra colonial. “É um dia de gratidão pelo serviço destes homens”, afirmou Pedro Lima, autarca de Vila Flor.
A escultura foi mandada edificar pelo antigo presidente da Câmara, Artur Pimentel. "Quisemos dar-lhe mais dignidade. Parecia estar um pouco escondida e quisemos levantá-la. No futuro queremos colocar os nomes daqueles que a partir de Vila Flor para o Ultramar”, indicou.
Tratou-se de uma tarde de emoção, mas também de análise da realidade, uma vez que os ex-combatentes não se sentem reconhecidos pelo seu sacrifício e muitos vivem com dificuldades.
“Existe um cartão de antigo combatente, onde está escrito o reconhecimento da nação, mas a nós ninguém nos reconhece nada. Só conseguimos no estatuto do combatente, no ano 2000, o acesso gratuito à saúde. Ainda assim, não temos acesso aos hospitais militares, como têm os generais. Temos ainda um subsídio anual que dá para pagar o almoço da reunião anual, num convívio nacional”, deu conta António Vilela Cabeço, que quer reestruturar a Associação de Combatentes e que deseja constituir um núcleo agregador dos distritos de Bragança e de Vila Real.
Apontando que existem cerca de cinco mil combatentes ainda vivos em Trás-os-Montes, mas sem certezas. “Os antigos combatentes sentem-se cada vez mais abandonados pelo poder, que nos abandonou desde que regressamos em 1974 e 1975. Não quiseram saber de nós, nem do nosso sofrimento e muitos camaradas nossos vieram numa urna”, referiu António Vilela Cabeço que encaminha muitos casos de dificuldade financeiras de que tem conhecimento “para os serviços sociais das câmaras”.
O presidente da Câmara de Vila Flor, Pedro Lima, admite que chegam pedidos de apoio por parte de ex-combatentes do concelho aos serviços do município. “Sim, já nos chegaram pedidos. Nós temos um atendimento muito carinhoso com os nossos ex-combatentes. Além do agradecimento que hoje prestamos, que é formal, também sabemos que nunca foram alvo de um agradecimento ao nível de condições de vida, a nível financeiro. Somos de opinião que se deva fazer mais, senão quem vai servir o país?”, referiu. O autarca revelou que além da homenagem o município quis “agradecer e reconhecer a estes homens que serviram o país nessa guerra, pois temos ainda a oportunidade de agradecer pessoalmente a alguns e a outros é póstumo”.
No concelho de Vila Flor não é conhecido o número de ex-combatentes ainda vivos. “Serão bastantes. É importante a homenagem agora quando já existe uma separação temporal dos acontecimentos. Além disso, atualmente fala-se muito em defesa, em ataque e em guerra”, acrescentou o autarca.
Na sessão foram apresentados vários livros, nomeadamente ‘Combatentes do Ultramar Injustiçados Reclamam Justiça’, da autoria de Abílio Aires; ‘Trajetos com Memória’ e ‘Memória da Campanha de Cavalaria 8440, Angola 1974-75’, de Virgílio Tavares.