Bragança

Pandemia revelou necessidades da classe média, diz presidente da Cáritas Portugal

Publicado por António G. Rodrigues em Qui, 2021-12-09 09:47

A pandemia de covid-19 revelou necessidades em famílias da classe média que, antes, não tinham dificuldades, revelou Rita Valadas, presidente da Cáritas Portugal à margem de uma visita à diocese de Bragança-Miranda, na passada sexta-feira.
“Com o confinamento, tivemos dois tipos de problemas. Primeiro, começaram a aparecer-nos muitas famílias que desconhecíamos e para as quais não estávamos, em termos de orçamento, preparados.

E, por outro, a necessidade de proteger as pessoas que trabalhavam connosco e os nossos utilizadores, e não havia, sequer, resposta no mercado. Num segundo momento foi dar um reforço financeiro de emergência para que as Cáritas Diocesanas pudessem apoiar estas famílias, que são de proveniência de classe média, média-alta, que vivem de pequenos negócios, tinham uma atividade pendurada na presença e tiveram de deixar de trabalhar e, em consequência, deixam de ter remuneração. Muitas tinham empréstimos para a sua atividade. O turismo era uma atividade com grande projeção e teve de encerrar.

Estas famílias eram desconhecidas para nós e as Cáritas não tinham orçamento.

Criou-se, então, uma campanha – intitulada ‘Vamos inverter a curva da pobreza’ – que era por ser por uns meses mas que, quando cheguei, prolonguei até ao fim deste ano porque a situação estava ainda mais crítica.

Vamos ter necessidade de manter um programa deste género para apoiar as situações mais atípicas e, também, criar um fundo de resiliência para que possamos agir em qualquer situação de emergência.

O Estado é mais lento a conseguir reagir porque tem um peso enorme e tem de se apoiar no terceiro setor”, explicou.

Rita Valadas, que está no cargo há um ano (completa-se amanhã), encontrou, em Bragança, uma realidade multicultural.
“A Cáritas está hoje mais robusta, mais próxima, mais informada, mas tem ainda muitos tesouros escondidos.

Há aqui um muito especial. O trabalho com migrantes que é feito aqui é único e muito meritório.

Aproxima-se muito daquilo que existe com o Cáritas Jovem. Aprendi que tinham organizado um esquema para fazer bolsas para os estudantes. Nota-se que Bragança está viva com a presença de migrantes de muitas proveniências, pessoas que estão apostadas em fazer parte do território, em estar e em apoiar”, frisou.

Por outro lado, refere que a pandemia trouxe coisas boas.

“Há lições boas da pandemia. Uma é a de que a crise pandémica não foi uma crise de solidariedade. Com a divulgação que fizemos, as pessoas chegaram-se a nós.
Depois, as pessoas foram obrigadas a ficar em casa. Quando estamos fechados num espaço, conseguimos tempo e atenção para escutar o que se passa à nossa volta.
São duas coisas que não podemos perder”, concluiu.

Já Cristina Figueiredo, a diretora da instituição, frisa que, neste momento, há dificuldade em conseguir voluntários.

“Essencialmente falta de voluntários. Fruto desta pandemia temos estado a assistir, de há dois anos a esta parte, a um aumento de donativos.

O nosso problema essencial é angariar mais voluntários, pessoas que se dediquem mais a este trabalho, e criar mais grupos Cáritas em vários concelhos, de forma a sentirmos que conseguimos avaliar os problemas das pessoas.

Os grupos mais ativos são os de Argozelo e Moncorvo.

Temos notado alguma resistência por parte das pessoas à frente das paróquias, mas que aos poucos esta caminhada vai dando frutos”, concluiu a mesma responsável.

Assinaturas MDB