A opinião de ...

Cortar sonhos aos jovens

A reunião do Conselho de Ministros da passada quinta-feira aprovou aquilo que promete ser uma machadada forte nas aspirações de milhares de jovens de prosseguirem os seus estudos no Ensino Superior, coartando as legítimas ambições de subir na escada social, ao mesmo tempo que afeta a sustentabilidade de várias instituições, sobretudo as do Interior do país.

Em causa está a mudança dos requisitos para concluir o secundário e concorrer ao Ensino Superior (universitário ou politécnico). Passa a ser obrigatório que os cursos tenham, pelo menos, dois exames de acesso (mais de metade exige apenas um exame) enquanto que o peso da nota final de secundário passa a valer 40 por cento e não 50 por cento, como até aqui.

O mais grave é que esta medida é contestada quer pelas associações de estudantes, quer pelos politécnicos e, ainda, por várias universidades.

Numa altura em que a política dos últimos anos passava por dar oportunidade a cada vez mais jovens para prosseguirem os seus estudos, com benefícios claros sobretudo em meios mais desfavorecidos como são os do interior do país, em que muitas famílias não conseguem suportar os custos de colocar os filhos a estudar em instituições do litoral, que veem, assim, defraudadas as expectativas criadas ao longo de anos.

Sucessivos governos (e mesmo a União Europeia) pugnaram por aumentar a percentagem de jovens a frequentar o Ensino Superior, pois o conhecimento estimula a criação de riqueza e permite trabalhos mais qualificados (e, por isso, mais bem pagos).

Essa política, que agora conhece um claro retrocesso, permitiu ao longo das últimas duas décadas, a milhares de jovens melhorarem as suas vidas com a criação de novas e melhores oportunidades, comparativamente com aquilo que aconteceu com os seus pais.

Uma medida teimosa e obtusa, levada avante por um governante, contra tudo e contra todos, contrariando os diversos pareceres que resultaram do processo de consulta pública, e que foi permitida pelo próprio Primeiro-Ministro.

É que não são conhecidos efeitos práticos para além de impedir a entrada de jovens num Ensino Superior.

Mesmo noutros países da UE, que estão a braços com dificuldades em alguns cursos muito concorridos, optou-se por não restringir ainda mais o acesso.

Para além do que, esta medida acaba por servir de atestado de incompetência às escolas secundárias e aos seus professores, através da diminuição do peso da nota de conclusão do secundário na ponderação da média de candidatura.

É um país mais desigual que se pretende?

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