A opinião de ...

“Raspar” ou “Rapar”, eis a grande questão

Esta de lançar uma raspadinha para proteger e recuperar o património cultural do país, não lembraria nem ao mais pintado.
Pobre povo o nosso que, sob o pretexto de contribuir para garantir a conservação e preservação dum enorme e valioso património edificado, como conventos, mosteiros, abadias, palácios e similares, a maior parte do qual extorquido aos seus legítimos donos, sem nunca se entender muito bem porquê nem para quê , se vê agora obrigado a engrossar as fileiras dos incontáveis e generosos raspadores lusitanos, para raspar mais uma raspadinha.
Salvo melhor opinião, na atual conjuntura sócio económica, lançar mais um jogo, porque, ao fim e ao cabo, a raspadinha em pouco ou nada difere dum vulgar jogo de sorte e de azar, mesmo dando de bandeja que possa ter sido por uma boa causa, o mínimo que se pode dizer dos seus mentores/autores é que, por incompetência, inépcia ou má fé, falharam redondamente todos os seus objetivos, nomeadamente porque:
1-No mínimo, é injusto, cruel e desonesto, ir “rapar” mais dinheiro aos parcos recursos duma classe média baixa que, de acordo com os dados conhecidos, é a que mais dinheiro gasta neste tipo de jogos;
2-Erraram redondamente o alvo porque, sendo o estado o dono do património em causa, é sobre ele que impende a obrigação inalienável de zelar pela sua conservação e necessária proteção;
3- É injusto que se recorra a mais um imposto camuflado para reparar telhados em ruínas, repor vidros partidos, janelas roubadas, portas estroncadas, muros e paredes derrubadas, repor mobiliários, obras de arte e equipamentos roubados, vítimas indefesas do vandalismo gratuito, resultante do abandono, incúria, inépcia e desleixo dos poderes públicos, a quem compete a responsabilidade de velar e zelar pela sua conservação.
4-É grave e desonesto que se passe a ideia de que vale tudo se for por uma boa causa, porque, aceite-se ou não, o jogo sempre foi, é e continuará a ser uma atividade perigosamente viciante, de consequências imprevisíveis para o já de por si periclitante equilíbrio de muitas famílias, a não ser que ainda haja gente que acredite que, quando é apoiado e promovido em proveito do próprio estado, como que por encanto, deixe de ser uma atividade condenável, e se transforme numa escola de virtudes.
Mas será que as coisas serão mesmo assim?
Depois de ouvir duma fonte insuspeita a afirmação categórica de que “Não há nada de extraordinário nesta matéria”, confesso que fiquei com sérias dúvidas de que as coisas seja mesmo assim porque, se, de facto, nesta matéria, como foi dito e eu ouvi, “não há nada de extraordinário”, fazendo a interpretação correta do significado das palavras utlizadas, teremos necessariamente de concluir que, a ser assim, temos toda a liberdade e todo o direito de classificar como “ordinário” o que resta de todo este processo, tão inoportuno e triste, como lamentável e desnecessário.

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3834

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