A opinião de ...

VERGONHA NACIONAL, NUM CRIME DE LESA HUMANIDADE

De volta às páginas do Mensageiro para, como habitualmente, tecer algumas considerações sobre o que de pior, (ou de menos bom), com que, lamentavelmente nos vamos confrontando, dando desta vez uma especial atenção à situação dos milhares de imigrantes vindos da Ásia, criminosamente explorados por engajadores e “empresários” agrícolas, sem escrúpulos nem vergonha.
Culpados?
Há, infelizmente bem mais do que deveria haver, muitos deles demasiadamente bem conhecidos, embora disfarçados de pseudoempresários, que se alimentam e engordam sugando o sangue das suas vítimas indefesas e talvez não menos que, estrategicamente e com hipocrisia farisaica, para não se comprometerem e fugirem às suas responsabilidades, olham para o lado e sacodem a água do capote, fazendo de conta que não acontece nada, sendo muito triste constatar que foi preciso aparecer uma terrível pandemia para que fosse posta a nu a situação degradante em que “viviam” tantos trabalhadores.
Como tantas outras, esta era mais uma das muitas chagas sociais que já
podiam e deviam estar curadas, para evitar o risco de gangrenar e acabar por se tornar incurável.

A situação era fácil?
Certamente que não era, mas isso não pode servir de desculpa para nada nem para ninguém, obrigando a que atempadamente, fosse encarada de frente para encontrar uma solução definitiva, humana, equilibrada e justa, nunca esquecendo que:
- Estamos em pleno século XXI e no continente que, de acordo com as conclusões da recente cimeira da CEE realizada no Porto, pretende apostar forte na vertente social da Europa;
- Nós portugueses sempre fomos um povo migrante que, como nenhum outro, demandou as quatro partidas do mundo;
- Os imigrantes que vêm para as nossas terras não podem ser tratados como números e muito menos, aproveitado as suas dificuldades e fragilidades, explorados como mão de obra barata, sem qualquer direito e que, por dá cá aquela palha, se podem descartar impunemente;
- Os imigrantes não são números nem são coisas. Como todos os homens, são gente e são pessoas que, não tendo nas suas terras condições mínimas para uma vida digna para si e para os seus, são obrigadas a lançar-se no desconhecido, na esperança de que, mesmo correndo todos os perigos e enfrentando todas as dificuldades, com muito trabalho e alguma sorte, possam um dia conseguir condições de vida com um mínimo de dignidade e de conforto, a que todos os seres humanos têm direito a aspirar;
- Porque os migrantes são gente que sonha, que sofre e que ama, que tem família e amigos, que trabalha, faz descontos, paga impostos, movimenta o comércio e a economia, enche os bolsos de muita gente, à semelhança do que aconteceu com os migrantes asiáticos, não podem ser tratados como gado, encurralados em espaços indignos de qualquer ser humano nem, pela calada da noite, sem lhes dar qualquer explicação, serem transferidos de um lugar para outro, como se de vulgares animais se tratasse, quando são levados para as feiras ou para os matadouros.

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3832

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