A dissolução de «Roma», tempo II
«Roma» representa aqui a civilização ocidental democrático-liberal, em risco de dissolução face à ameaça da sua descaracterização racial, étnica, cultural e religiosa. Esta descaracterização não seria um mal em si mesma se planeada, aculturada e controlada. Em hordas e em passo acelerado representa a possibilidade de conflitos comunitários graves, sejam eles de origem racial, étnica, cultural ou religiosa ou mais que de uma ou de todas em conjunto.
O apelo do Papa Francisco para que o Ocidente receba indiscriminadamente todos os refugiados e migrantes é um apelo ao suicídio civilizacional. Por mais fraternais que queiramos ser, sabemos que não temos capacidade para acolher todos ao mesmo tempo e sabemos que um tal acolhimento, se descontrolado, irá provocar enormes conflitos de entre os anteriormente referidos com riscos de dissolução civilizacional e cultural.
Basta-nos rememorar as causas da decadência do Império Romano para percebermos que a entrada indiscriminada de povos-outros põe em causa a homogeneidade cultural necessária à aceitação e integração do diferente. Sobretudo, quando a defesa civilizacional admite a integração de estrangeiros nas fileiras das forças Armadas.
Recorde-se que o final do Império Romano aconteceu por conflitos entre legiões do Exército porque constituídas, muitas delas, por «bárbaros» (estrangeiros) a quem o Imperador Diocleciano, influenciado pelo espírito de fraternidade e acolhimento cristãos, tinha concedido o Jus Gentium (direitos básicos de cidadania) e que, a determinada altura, lutaram umas contra as outras, destruindo a força de Roma.
E parece ironia, mas a civilização Ocidental defende-se hoje em fronteiras próximas das de há 1.800 anos, entre Roma e os tais «bárbaros», que não o eram, sendo apenas migrantes à procura de bem-estar, como os de hoje.
Não se coloca em causa o direito absoluto de cada um a procurar o seu melhor modo de vida. É um direito que o tempo histórico consagrou. Simplesmente, os direitos têm modos razoáveis e aceitáveis de serem exercidos. E tanto dever têm os acolhedores de criar as condições para aceitar e integrar como os acolhendos de aceitar e ajudar a melhorar tais condições e participar na construção da homogeneidade civilizacional. De outro modo, nascerão e crescerão revoltas que favorecerão os comunitarismos de toda a sorte, com os conflitos inerentes, tal como Samuel Eisenstadt pôs em evidência.
Por isso, não entendo o que quer o nosso Papa Francisco. Em vez de apelar a um acolhimento planeado, pede um acolhimento invasivo, ignorando a história de Roma. De boas intenções está o inferno cheio e também o imperador Diocleciano estava cheio delas. O resultado conhecemo-lo.
Se o conhecemos no caso de Roma, não é difícil adivinhá-lo no Ocidente Liberal, alvo hoje de ataques de toda a sorte. Não é pequeno aviso termos de defender a nossa civilização na Ucrânia, lá nos confins do Ocidente Democrático.
A Rússia conseguiu pelo menos que a grande vencedora da guerra Rússia-Ucrânia venha a ser a China, em qualquer circunstância, face à falsa união e hipocrisia ocidentais na relação com esta guerra. E não se esqueça que os novos «bárbaros» (migrantes e refugiados) fazem parte dela.