O resgate do «25 de Abril»
O 25 de Novembro de 1975 (doravante, 25 de Novembro) foi o fim de um processo de recuperação da democracia liberal contra as tentativas de transformação do país numa ditadura comunista através de movimentos de vanguarda revolucionária nos quais o Partido Comunista não dava a cara e apenas legitimava as transformações.
O 25 de Novembro é assim uma data decisiva na instituição da democracia, não pelo dia em si mas pelo processo que representa, desde Junho de 1975.
Enquanto participante nos e dos factos conducentes a todo o processo, desde o 25 de abril de 1974 ao 25 de Novembro de 1975, dou o meu testemunho como cada um pode dar o seu conforme os factos que tenha para contar.
O projecto do 25 de Abril de 1974 assentava na construção de uma sociedade pluralista através de eleições livres, da liberdade de expressão, de mais desenvolvimento, de descolonização e de mais justiça social. O que aconteceu foi que, a partir de 29 de Setembro de 1974, após a demissão do primeiro Presidente da República (PR), General António de Spínola, devido a este ter tentado impedir a descolonização, através da manifestação da «maioria silenciosa», o Partido Comunista, cumprindo a profecia de Salazar em 1966, tomou conta da «Revolução» e, a partir de 12 de Março de 1975, após o golpe de 11 de Março, instituiu o PREC (Processo Revolucionário em Curso) e tentou aniquilar todas as perspectivas opostas à sua.
Em Maio, a Sociedade Civil e os militares democratas pareciam resignados mas, graças aos esforços do Embaixador Americano em Portugal, Frank Carlucci, de Costa Gomes (Presidente da República, PR), de Mário Soares, de Sá Carneiro e dos militares moderados do «Grupo dos Nove», «ressuscitaram» em Julho e manifestaram-se a partir de Agosto criando um movimento de resistência militar, civil e religioso a partir do Norte do País, com adesão progressiva de muitas das populações e unidades militares das regiões centro e sul.
O confronto só se poderia resolver com eleições mas até isso as milícias de vanguarda do PCP tentaram evitar procurando impedir, em 12 de Novembro, a Assembleia Constituinte de elaborar e aprovar a Constituição. Foi aí que o novo PR, General Costa Gomes, e o então Primeiro-Ministro, Almirante Pinheiro de Azevedo, compreenderam que era necessário usar «musculatura» para cumprir o Programa do MFA na parte respeitante à elaboração e aprovação da Constituição e à manutenção da ordem.
O ambiente era de enorme crispação e os democratas mal podiam falar. No dia 18 de Novembro, um ultimatum exigia a demissão das elites militares de Extrema-Esquerda «a fim da pacificar a instituição militar». Chegado ao General Costa Gomes, recebeu um tratamento político-estratégico e, no dia 22, militares de Extrema-Esquerda e «milícias revolucionárias» ocuparam alguns quartéis e bases aéreas embora de uma forma desorganizada, mobilizando Costa Gomes a resposta institucional e militar através do AMI (Agrupamento Militar de Intervenção) sob a direção de Ramalho Eanes e no qual se integrava o Regimento de Comandos.
O PCP, misteriosamente, retirou o apoio aos militares revoltosos, por ordem de Moscovo, o que facilitou as coisas (Carlucci, um de Dezembro, Regimento de Comandos) Isso explica a pacificação das relações políticas do MFA com o PCP e a integração deste na dinâmica parlamentar.