A opinião de ...

A verdade e a política

Num mundo onde as mentiras são regras, falar verdade e exigir a verdade não pode ser considerada provocação.
A verdade, entendida como a correspondência entre o pensado, o dito e o real, como a coerência interna daquilo que é sendo que o que é, na medida em que corresponde a si mesmo, é verdadeiro, não pode ser assumida como de somenos importância para a vida em sociedade.
Pelo contrário! Desde logo, pelo significado especial que abarca para a convivência harmónica e frutífera, mas também pela ordem e respeito pela dignidade humana, de toda e qualquer pessoa, que representa.
Por isso, em qualquer circunstância ela deve ser procurada, afirmada, defendida e evidenciada.
Isto é válido inclusive para estes tempos hodiernos de ânimos exaltados e acirrados, com tons muito carregados no debate público e de perda de algumas referências de discordância frontal, mas cordata.
Não é por isso admissível que sendo a política a condição daquele que vive em sociedade, enquanto organização estruturada e reconhecida como uma missão de dedicação aos outros, ao serviço do bem comum, a que todo o cidadão se deve sentir interpelado, expressando a ideia de que todos podemos contribuir para a boa governação (politica) ao mesmo tempo que somos seus beneficiários cooperantes com essa boa governação (cidadania), ela não se estruture e concretize sob o valor fundamental da verdade.
Por isso, os factos que se vão conhecendo quer pelas Comissões Parlamentares de Inquérito quer pelas investigações jornalísticas, etc, que dizem respeito a problemas, acontecimentos e circunstâncias, cuja importância política é imediata, para além de nos estarrecerem, evidenciam que nos devemos preocupar seriamente.
O prejuízo que a má política e os maus políticos podem causar à verdade é de tal forma negativo que faz com que se perca a credibilidade e a confiança dos cidadãos e concomitantemente, além de os afastar, torna-os vulneráveis à manipulação, aos populismos, às demagogias.
Por isso, penso que de certa forma todos nós estamos cansados de ver aquela que é uma atividade nobre e imprescindível à vida em sociedade, ser território de recrudescimento da mentira, da ilusão, do mundo paralelo e distorcido da realidade.
Um dia, afirmou John Dalberg que “o poder tende a corromper, o poder absoluto corrompe absolutamente” pelo que nos deveremos perguntar, diante destas constatações, é se não podemos fazer nada perante isto.
Muito temos e podemos fazer para o evitar.
Portanto, o que se nos exige é que, face à grandeza e dignidade da Política e do domínio político, não aceitemos justificações mais ou menos ilusórias sem combate, mais do que não seja pelo poder que o voto confere, em Democracia, a cada pessoa.

Edição
3936

Assinaturas MDB