A opinião de ...

Pelas Almas do Purgatório

No escritório toca o telemóvel.
- Viva Pe. Estevinho sou o Rocha, como vai? Tem falado com o Pe. Hérmino?
- Viva lá Pe. Rocha, eu estou bem, graças a Deus. Falei ainda ontem com o Pe. Hérmino estamos a escrever um artigo sobre as Almas do Purgatório.
- Fantástico […] que tema tão importante! Continuem!
São João Paulo II, na sua encíclica “Missão do Redentor” diz que “a missão está ainda no começo e, pede empenhamento com todas as forças ao seu serviço”, pois o “impulso missionário sempre foi um sinal de vitalidade da fé”. Para que veja também a pertinência do artigo, o Papa Bento XVI numa das suas catequeses, de quarta-feira, refletindo sobre o exemplo de vida de Santa Catarina de Génova, falou das Almas do Purgatório, “verdade fundamental da fé que convida a rezar pelos defuntos, a fim de que possam chegar à visão beatífica de Deus na comunhão dos santos”.
- Pois, Pe. Rocha, muitas vezes as Almas do Purgatório são tidas como algo negativo, antiquado, supersticioso, para não falar já das controvérsias do diálogo inter-religioso [3]. Mas, deixemos que fale mais a doutrina da graça e, a solidariedade orante dos crentes.
- Pronto, Pe. Estevinho acabe o artigo, passe bem, vamo-nos ouvindo.
Ainda o telemóvel não assentara no repouso e, já tocava novamente.
- Viva Pe. Hérmino, como vai?
- Não vou… estou parado, de papo pro ar. Não sentes as máquinas? Estou na clínica da diálise em Mirandela! Avançastes o artigo?
- Estive mesmo agora a falar dele ao Pe. Rocha.
- Muito bem… Recordo-te as “Alminhas” de Vale-Benfeito, à porta da Tia Adélia e, a cerimónia de inauguração, a 14 de agosto de 1966, pelo P. António Joaquim Ribeiro, que deixou nelas inscrito este verso: “As almas do purgatório/ Pedem-vos cheias de dor/ Ó vós que ides passando/ Pedi por nós ao Senhor”.
- Pe. Hérmino, o meu amigo Alexandre Castro iniciou, e ainda não concluiu, um trabalho sobre as “Alminhas”, contudo construiu e instalou, há quatro anos, uma destas peças de arte sacra, de raiz, em Frieira e, promete ainda fazer outra. Mas, o trabalho importantíssimo de inventariação das “Alminhas” continua por fazer a nível concelhio e, diocesano. Quem sabe se do Instituto Politécnico de Bragança [IPB], das autarquias, ou das populações locais, alguém se entusiasma na preservação e recuperação de tão singelo património. O investigador Matias Coelho diz que “as ‘Alminhas’ são genuinamente portuguesas e não há sinais de as haver, em mais lado nenhum do mundo”.
- Estevinho, porque será, que em algumas aldeias, pelas 9.00h da noite, ainda persiste o costume de tocar o sino e, rezar pelas almas? Porque será que no mês de novembro, ainda hoje, em tantos lugares se celebra Missa e o ‘Ofício’ pelas almas e, se visita o cemitério? Será que as almas ao chegar ao céu se esquecem de pedir a Deus por quem as ajudou a sair do Purgatório? Porque será que Jesus pergunta: “quando vier o Filho do homem encontrará fé sobre a terra?” [Lc 18,1-8].
Recito-te de cor uma oração, que rezava como responsório em celebrações exequiais:
Senhor vós sois aquele que se compadece e perdoa, nós vos imploramos humildemente pela alma de N. a quem chamastes para vós, não a abandoneis nas mãos do inimigo, nem a desampareis para sempre, mas enviai os vossos anjos, para a receberem e conduzirem ao paraíso e, como acreditou e esperou em vós, concedei-lhe o prémio da vida eterna.
- Dai-lhes, Senhor, o eterno descanso,
- Entre os esplendores da luz perpétua.
- Descanse em paz.
- Ámen.

Edição
3823

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