A opinião de ...

Futebol de Formação : Entre a paixão e a pressão

E quem ousar cortar a liberdade de uma criança no que a faz mais feliz nunca entenderá a essência do verdadeiro futebol.

Muitos dos meus fins de semana são passados em torneios e encontros dos mais pequeninos. É lá que surgem as minhas interrogações e dúvidas sobre o que é realmente formar talento e cultivar a paixão pelo futebol.

Ouço tanto das bancadas quanto em campo gritos como: “Passa a bola! Joguemos a um/dois toques, não fintes tanto, passa mais… “. Frases como essas asfixiam a criatividade de quem está na idade de experimentar, errar e conhecer todos os lados da bola.

Hoje em dia, todos discutimos a falta de “mágicos” e a ausência da imprevisibilidade em campo. O problema está onde tudo começa: nos escalões de formação.

Os treinadores nestes escalões têm a responsabilidade de apresentar várias soluções em campo, auxiliando os meninos e meninas a tomar as melhores decisões. Porém, nunca devem obrigá-los a jogar de uma forma inadequada para a sua idade. Vejo meninos e meninas sem a alegria natural de uma criança, presos à pressão imposta por “treinadores” que os querem formatar para jogar como adultos de 20 ou 30 anos. É aqui que vejo claramente o problema.

Muitos treinadores destes escalões esquecem que trabalham com crianças. Formar não é apenas ensinar técnicas e táticas, é, acima de tudo, alimentar a paixão e o prazer pelo jogo. Nem todos têm aptidão para serem treinadores de formação, e isso é algo que precisa ser mais discutido.

Fico com a sensação de que muitos treinadores de formação querem incutir a força toda a questão do ganhar, onde muitas vezes esquecem que o mais importante não são eles, nem os resultados que conquistam com as suas equipas, mas sim a alegria em campo que está dentro dos seus meninos.

Eu, enquanto também treinador de formação, em todos os treinos que preparo e todos os jogos que disputarei, tenho sempre em mente estas questões e reflexões. Para mim, ver a liberdade, a alegria e as gargalhadas em campo são as vitórias que temos que conquistar em primeiro lugar e, sem dúvida, as mais importantes. A questão de como jogar e de como chegar ao resultado positivo vem depois.

Se não conseguirmos incutir logo nestas idades como realmente deve ser sentido o futebol, no futuro teremos jogadores que jogam por esforço e por outras motivações que não são a verdadeira paixão pelo jogo.

Para o futebol continuar a ser o jogo bonito, é essencial que devolvamos às crianças a liberdade de explorar e se divertir. Só assim podemos garantir que as próximas gerações cresçam não apenas como jogadores talentosos, mas como jogadores e pessoas apaixonados pelo futebol.

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