Comunidade Intermunicipal lança projeto de mais de um milhão de euros para rota com património industrial esquecido dos dois lados da fronteira

A Comunidade Intermunicipal Terras de Trás-os-Montes (CIM TTM) quer lançar um roteiro de património industrial que fez parte da história da região, através de um consórcio com oito parceiros, quatro portugueses e quatro espanhóis.
O projeto, orçado em 1,150 milhões de euros, foi apresentado esta terça-feira, na Casa da Seda, em Bragança, local que foi um importante pólo da indústria da seda no século XVIII, num seminário que juntou especialistas portugueses e espanhóis.
“A nossa região e a vizinha Espanha é rica em património que, ao longo dos anos, fruto da evolução tecnológica, as coisas deixaram de ser usadas. A nossa preocupação é dar a conhecer a evolução industrial que aconteceu ao longo dos anos”, explicou o Secretário Geral da CIM, Rui Caseiro.
Do lado espanhol “há um foco principal na produção hidroelétrica e na evolução que houve e na área das moagens”, precisou.
“Do nosso lado, temos como parceiros a CIM, o Turismo Porto e Norte e o IPB [e a Direção Regional de Cultura do Norte como parceiro não financiador], focámo-nos mais na indústria mineira. Temos aqui várias minas de volfrâmio e de outros minerais e também quisemos fazê-lo também na área da seda porque Bragança era um dos polos mais importantes a nível nacional. Também a parte hidroelétrica pois era aqui neste local que estava a produção de energia elétrica que abastecia Bragança”, explicou o mesmo responsável.
No âmbito deste projeto, será ainda instalado “um centro de interpretação no Complexo Agroindustrial do Cachão como património Agroindustrial”, na estação ferroviária do Cachão.
O arquiteto espanhol Joaquim Garcia é o diretor deste projeto transfronteiriço. Ao Mensageiro, esclarece que “o objetivo é gerar uma estratégia de cooperação transfronteiriça para a criação de uma estratégia de turismo sustentável vinculado ao património industrial”.
“O que queremos é reconectar a sociedade com as raízes e as atividades produtivas. Este património está esquecido e a sociedade não o entende como parte da sua identidade.
Vamos tratar de recuperar esse património industrial para gerar um vínculo emocional e real com a sociedade produtiva da que somos herdeiros”, explicou.
De acordo com o mesmo responsável, “será através de um projeto europeu, com uma característica fundamental, pretende-se que seja transfronteiriço e o ponto de ligação é o rio Douro”.
A Casa da Seda, em Bragança, nas margens do rio fervença, é um dos exemplos deste património, e foi recentemente alvo de obras de requalificação, tendo sido instalada uma turbina de produção de eletricidade através da água do rio.
“Recuperámos o património do moinho que existiu aqui.
Colocámos aqui uma roda de água moderna para recuperar esse património histórico. Essa roda de água produz a energia que é utilizada aqui na Casa da Seda embora seja uma potência simbólica, de 130 watts. Isso 24 horas por dia significa o equivalente ao consumo de uma habitação.
Pusemos uma turbina um pouco maior, de 1,2 Kw”, explicou Vicente Leite, docente no Instituto Politécnico de Bragança.
Esta energia é injetada numa micro-rede elétrica na Casa da Seda.
“Tem produção de energia fotovoltaica e hídrica, acumulação de energia e toda a gestão inerente a uma rede elétrica.
Aqui não houve apagão porque o sistema tem a capacidade de, falhando a rede pública, entrar em modo autónomo em menos de um minuto”, explicou o também investigador.
De acordo com Vicente Leite, a poupança na fatura elétrica “deve ser de cerca de 80 por cento”.
“Foi concebido para estar sempre visitável ao público e ser monitorizado com duas plataformas e uma outra aplicação para controlar as electroválvulas. Isto foi um projeto financiado pela FCT, com a colaboração do município, de 50 mil euros. O apoio do município foi fundamental para as infraestruturas.
Houve o isolamento térmico e acústico. As condições ambientais são agora outras”, concluiu.
António