A opinião de ...

Cartas anónimas e a delação

Há dias Lobo Xavier no início de programa Circulatura do Quadrado evocou o antigo ministro da Agricultura Duarte Silva porque ao fim de 17 anos ficou ilibado de uma denúncia anónima infamante do seu bom nome e da sua íntegra conduta. O outrora governante já faleceu, carregou durante anos o miserável labéu porque a justiça sendo lenta neste processo mostrou-se demasiado pachorrenta, obscenamente pachorrenta e infelizmente não é caso único.
Todos nos lembramos do sinistro episódio das repugnantes missivas contra o Bispo Dom António Rafael, na altura escrevi noutro jornal condenando
Ínvios processos ao modo dos execráveis bufos pidescos de má memória, na altura não me inibia de criticar o Prelado em virtude de algumas posições políticas por ele assumidas, no entanto, foi-me dado saber quão grato ficou por ter condenado os denunciantes sem rosto, donos de estilo cuidado, cobardes no essencial e no acessório na esfera de onde se moviam.
Na semana passada realizou-se em Bragança i Congresso Safarad no qual se mencionaram processos contra os membros das comunidades judaicas tendo como base a delação, ficando esta mancha sobre os nossos ascendentes e nós próprios. Por todas as razões e mais algumas que não vêm ao talhe de foice, estão depositadas na Torre do Tombo, abomino a delação debaixo de todas as formas embora Ana Gomes (José Fouché lhe chamou Vasco Pulido Valente) madrinha do denunciante Rui Pinto, defende a delação, até a premiada. O virtuoso Pinto procura obter dinheiro através das suas habilidades, a antiga diplomata já o absolveu, ou não fosse adoradora de Maniqueu, e quando assim é manda a inteligência deixar a criatura falar.
Sim há crimes nefandos, horrorosos, pois há, sendo tenebrosos mais dignidade colhe aquele que dá a cara no momento de revelar o sucedido arrostando com a maledicência quantas vezes dos vizinhos e supostos amigos copistas dos hipócritas da época da Inquisição, quantas vezes no intento de se apossarem dos bens dos desgraçados presos, torturados e condenados a mortes cruéis e aviltantes. E, não se julgue ser esta prática da denúncia ser utilizada apenas contra os tecelões, os negociantes, os barbeiros e sangradores, os boticários e bufarinheiros, não, nada disso atingia figuras de relevo na Igreja, na nobreza, nas artes e letras. O insigne prosador e missionário Padre António Vieira é saliente exemplo disso mesmo.
E, assim aconteceu, com ou sem sombra de pecado, mulheres e homens sofreram tratos de polé, obrigando parentes, amigos e conhecidos a abandonarem Portugal levando no bornal dinheiro e metais preciosos, na cabeça ideias, projectos, conhecimentos, a tal massa crítica, ficando o País mais pobre e falho nas suas estruturas económicas e financeiras até aos dias de hoje. De agora!
S tentação de copiarmos os brasileiros existe, está latente em vários círculos do fechado universo jurídico, veremos se os falcões adeptos da reles denúncia não conseguem levar a água ai seu moinho, a democracia escora-se em esteios de dignidade, vergonha, firmeza e o antes quebrar que torcer apanágio dos homens bons que ajudaram a construir Portugal, da estirpe dos resolutos célebres cortesãos do «senão, não» barreira impeditiva de um rei da primeira dinastia, tal como os outros olvidados nos programas escolares, Afonso IV, cujo cognome não o refiro na esperança de os leitores o irem procurar nos livros de história sem pretensões à erudição, sim, concebidos para as classes populares.
PS. Continuarei atento ao tema, sem esquecer o da regionalização

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