A opinião de ...

Machismo

Um homem não chora. Desde tenra idade ouvi dizer o título de um livro de Sttau Monteiro, Um Homem Não Chora. Choro e continuarei a chorar desconsiderando o mandamento machista, porque chorar era fraqueza feminina.
Esta na berra discutir-se o machismo enquanto praga nefasta a erradicar definitivamente das comunidades. Concordo. E, no entanto, ao ler e ouvir litanias femininas a excomungarem os machistas sou obrigado a sorrir porque os seus anátemas prejudicam-se a si mesmo quando esquecem a matriz da chaga, quando ressumam de ressentimento, quando querem impor a ditadura de sinal contrário. O machismo é pulsão detestável, sendo-o obriga-nos a condená-la, a não a praticar, ponto final parágrafo.
Esmiuçando o conceito verifica-se ser o machismo consequência de educação forjada na aparente superioridade mental, moral e física do homem relativamente à mulher, quantas e muitas vezes fomentada pelas próprias mulheres mães, avós, tias e demais parentela, alicerçada numa cultura da força muscular e na dependência económica.
Um homem não chora dizia-se e ainda se diz, esse mesmo Homem detém enormes fraquezas levando-o a chorar no regaço das mães e das consortes (quantas vezes sem grande sorte) obtendo afagos a secarem as lágrimas até à próxima ocasião de desgosto. Se frequentarmos os livros de autores clássicos encontramos inúmeros exemplos de exaltação da desconfiança dos homens relativamente às mulheres. Os de sinal contrário também surgem amiúde, é a denominada guerra dos sexos, recheada de elementos picarescos, de significado astucioso, velhos de milhares de anos vestidos de roupagens mitológicas.
A manha é conferida às mulheres associando-as às raposas, os homens e os lobos são broncos, brutos e facilmente enganados. Pensemos nas gargalhadas das nossas ancestrais a contarem «contas» do género nos longos serões das noites invernais, pensemos na estuante raposeta do Romance da Raposa de Aquilino Ribeiro, pensemos nas Fábulas de Esopo.
Estamos a atravessar uma época marcada pelo farisaísmo para não dizer fundamentalismo das divas do estrelato das artes, especialmente das já decadentes do cinema, espanta o facto de só passados dezenas de anos dos vexames que dizem ter sofrido virem a terreiro denunciá-los. No seu apogeu eram possuidoras de imenso poder, bastava acenarem e todos os órgãos de comunicação social relatariam os seus agravos e queixas, preferiram ficar caladas. Argumentam terem tido vergonha de falarem na altura do ocorrido, posso acreditar, porém se vasculharmos o passado das vedetas de outrora não faltam notícias sobre os seus sucessivos casamentos e escândalos numa permanente Dolce Vita. Diga-se em abono da verdade que a vedeta do filme La Dolce Vita, e esplendorosa Anita Ekberg e a sua congénere à época Brigitte Bardot não pertencem ao grupo das ora protestantes.
Se o machismo merece repúdio a violência doméstica é muito mais condenável, no espaço de um ano, duas sentenças judiciais suscitaram e continuam a suscitar enorme controvérsia, as mesmas foram firmadas baseadas na lei por juízas e juízes. Se a lei está mal corrija-se a lei (elaborada por juristas), no firmamento social as violações provocam justa repulsa muito derivada do conceito de honra e vergonha vindo das sociedades arcaicas dos povos mediterrânicos. Esse conceito de honra em vários casos continua a lavar-se com sangue. Importa banir o machismo, é imprescindível castigar severamente a violência doméstica não só relativamente às mulheres, da mesma forma contra os homens. Ou há moralidade…

Edição
3702

Assinaturas MDB