A opinião de ...

Pardal sem rabo

O garboso primeiro-cabo corneteiro do Batalhão de Caçadores 3 sedeado em Bragança ficava furioso, a espumar raiva quando os rapazes, ululantes, activados pela maldade recebida dos mais velhos entoavam pardal sem rabo. Era meão de estatura, tarimbeiro de profissão,
O escanhoado impecavelmente, nos dias de desfile comandava o terço de corneteiros como se estivesse na época do coronel Anta cujo irmão fugiu para a então URSS, gosta de aos domingos passear-se nas ruas do velho burgo descendo a encosta grande (os leitores que não sabem onde fica façam o favor de se elucidarem), subia a rua Direita, passava rápido a Praça da eira de Espinhosela em direcção ao jardim do coreto, designado oficialmente António José de Almeida, ali dava umas voltas e regressava ao quartel estacionado junto ao castelo, antes de ouvir o toque para jantar ia à cozinha onde o aguardava substancial prato de folha repleto de macarrão e troços de carne, a sua prerrogativa de cabo RDM dava-lhe tal direito emanado de uma antiga determinação do coronel Machadinho o qual quando Tenente descobriu num armário travessas cheias de carne surripiada ao rancho das praças pelos cozinheiros num domingo. Essa carne iria pagar favores de natureza sexual ao modo dos costumes de tempos idos. O tenente irou-se, agarrou num racho obrigando os rapazes da cozinha a refugiarem-se nas casernas.
Esta lembrança cozida à máquina de escrever pelo meu pai reavivou-se quando a partir do mês de Abril do ano em curso outro Pardal entra nos noticiários de cabelo oleoso, de voz falsa em intonações de aparente humildade e quase choro porque os motoristas de materiais inflamáveis estiveram vinte anos desprovidos de tudo, escravizados, não possuindo nada, apenas telemóveis e sapatilhas de topo. Mas, afinal quem é (era) Pardal Henriques?
Não era, nem é militante proletário, muito menos motorista de pesados, sim de rápido Maserati, é advogado, assessor jurídico, conselheiro de sindicatos e homem de negócios, m esquecermos o ter aceitado o convite de Marinho e Pinto (outrora ínclito deputado europeu não desdenhou as mordomias de Bruxelas que prometeu renegar), ou seja homem das sete maravilhas deste jardim à beira-mar concebido.
Para lá das sérias razões dos motorista o cutelo de Pardal só pode merecer repúdio pois não se pode aceitar o corte do pescoço do País esquecendo os direitos de milhões de pessoas, as greves fazem-se e causam mossa, no entanto, nunca por nunca de forma total na asfixia das comunidades.
Não faltam livros referentes à greve selvagem e greves selvagens e seus efeitos, a dos motoristas de materiais perigosos aguçou o apetite de numerosas pessoas no sentido de a lei da greve ser retocada, o Presidente jugulou-o à nascença tal como fez à regionalização, nos dois casos ainda bem, de qualquer forma o desejo ficou, conviria que esmorecesse definitivamente porque os portugueses têm o direito a deixarem de ser cobaias de experiências, seja a do revigoramento do populismo (Pierre Poujade não deixou saudades), seja o retalhamento do nosso pequeno Portugal de maneira a serem satisfeitas irrealidades e vanidades de poder.

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3745

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