A opinião de ...

Sair do modo 'pausa'

Estamos a apenas dois dias de deixar o ano de 2020 para trás das costas e, julgo eu, sem grandes saudades.
Há nove meses a nossa vida levou uma volta como poucos alguma vez julgaram possível.
No final de fevereiro, à margem do Conselho de Ministros descentralizado que se realizava em Bragança, a Ministra da Saúde começava a responder, pela primeira vez, a questões relacionadas com um novo coronavírus, que chegava da China mas que parecia tão distante quanto a pandemia da chamada gripe espanhola, que dizimou mais de cem milhões de pessoas no início do século XX.
Desde essa altura, a nossa forma de vida entrou no modo 'pausa'.
Nove meses passaram, o tempo de uma gestação, e praticamente não se deu por eles.
As habituais referências do ano foram sendo adiadas ou canceladas e, de repente, já estamos no Natal quase sem darmos por isso.
Durante nove meses, à exceção dos profissionais ligados à saúde ou ao cuidado dos outros, ficou a sensação de estarmos a suster a respiração, à espera daquela golfada de ar fresco que nos há de inundar os pulmões e livrar deste aperto que se sente no peito.
Já nada será como dantes.
Já nada é como dantes.
A realidade muda a cada dia mas 2021 chega com a promessa de um doce regresso à normalidade, àquele conforto do conhecido e do esperado, da celebração da Páscoa como a conhecemos, com procissão e compasso, do jantar de amigos, da sardinhada, da Feira das Cantarinhas, do Fumeiro ou dos Sabores, da ida às compras sem olhar para o relógio, de apanhar uma constipação sem o receio de ser mais do que isso, uma simples constipação... de um abraço apertado, de um toque...
O ano de 2021 chega com a promessa da esperança num futuro que seja como o passado que deixámos em pausa há nove meses.
Mas, quando acordarmos, temos a garantia de nos sentirmos como o Martin McFly, a personagem de Michael J. Fox no segundo dos três filmes de Regresso ao Futuro, quando acordou no presente, mas um presente que já não era o seu.
Sem máquina no tempo a que nos possamos socorrer, agarremo-nos à Esperança de que, apesar de tudo, tudo ficará melhor.
Poderemos ir aos restaurantes no dia e na hora que nos apetecer, poderemos sair à rua quando quisermos, entrar nas lojas, comprar no comércio que conseguir sobreviver a este aperto no peito, vibrar com a Seleção no Europeu de futebol de 2020 que afinal será em 2021.
Tal como o raiar do dia ultrapassa, suavemente, a escuridão da noite, também nós sairemos desta pausa entorpecedora, que nos tolhe os sentidos e os sentimentos, com a luz da Esperança a aquecer o nosso fôlego.
Não será uma golfada a libertar-nos de uma só vez. Andaremos sôfregos por algum tempo. Mas com a certeza de que sairemos todos mais fortes.
Acredito que 2021 será um ano melhor. Não será para nos esquecermos da dor, para nos livrarmos da máscara e do álcool gel.
Mas será um ano diferente, para melhor... e sem pausa.
Um Bom Ano para todos.

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