A opinião de ...

As lições de Merkel

Max Weber traçou três qualidades determinantes do Homem político: paixão, sentido de responsabilidade e sentido de proporção. Com certeza que a maioria de nós reconhece que Angela Dorothea Kasner Merkel, Chanceler da Alemanha desde 2005, pelo partido União Cristã Democrata – CDU, tenha sido quem mais as evidenciou no dealbar deste séc. XXI, constituindo-se como uma das personalidades mais marcantes e com mais influencia na Europa e do mundo.
De jovem aprendiz de Helmut Kohl, proveniente do leste germânico pobre e comunista, Doutora em Física na Universidade de Berlim, tornou-se a primeira mulher Chanceler, presidindo a 4 governos de coligação e efetuado 6 legislaturas em 16 anos! A sua retirada no próximo outono de 2021 marcará, em princípio, o fim da sua era política, agora que até já foi escolhido Armin Laschet como seu sucessor na CDU.
Nunca se mostrando propensa à pós-moderna política das emoções e evidenciando coragem para tomar decisões nem sempre populares, mostrando a sua força como líder carismática e o seu elevado tamanho como estadista, a Chanceler alemã legou-nos importantes lições.
Desde logo, uma das mais marcantes, em oposição a um número considerável dos seus concidadãos, a de ter oferecido a Alemanha e mantido as fronteiras alemãs abertas a receber refugiados encurralados no limbo de Lesbos na Grécia, sobretudo nos difíceis e piores anos da emergência de refugiados, dando uma lição ímpar de defesa da dignidade humana!
Outras lições, por exemplo, no plano europeu, evidenciando capacidades de escuta e análise, decorrente do pensamento científico adquirido, além de experiência e determinação negociadora depois de ter sopesado todas as possibilidades, foram as de ter mantido o leme da austeridade na crise para salvar o euro e de ter servido de fio de prumo na legislatura de Donald Trump quando este dinamitou todas as bases de cooperação existentes ao arrepio da histórica relação bilateral euroamericana.
Mais recentemente, na crise do Brexit, sob a presidência alemã da União Europeia, logrou um fundamental tratado de livre comércio com o Reino Unido, não deixando cavar um fosso inultrapassável entre este ex-estado membro e a Europa, e mantido a coesão dos outros estados membros europeus.
Os seus tremores em público que a televisão mostrou à saciedade, pareceram evidenciar uma pessoa doente e a viver um episódio duro da sua vida pessoal, mas tendo surgido esta maldita pandemia, pareceu-o ter ultrapassado pois a temos visto, novamente, a liderar não só a Alemanha, mas também a Europa.
Afortunadamente, reservou as suas melhores forças para forjar o consenso para a, segundo Costa, “bazuca europeia”, num consenso muito difícil entre os 27 estados membros, resolvendo o bloqueio húngaro-polaco, numa ótica de conjunto de construção do projeto europeu para uma solução económico-financeira que parecia impossível há uns meses para a crise do Covid 19.
Angela Merkel foi a grande impulsionadora deste transcendental acordo, ajudando a ultrapassar a intransigência dos chamados países “frugais” e antepor o interesse global europeu para uma recuperação económica que se pretende urgente e rápida, que muito poderá ajudar Portugal e os portugueses. Merece por isso o nosso reconhecimento, com um forte aplauso e todos de pé!
Era bom que os nossos governantes aprendessem dela a sua fiabilidade, a sua perseverança e o seu rigor.

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3816

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