A opinião de ...

O País Exaurido

Passadas as festas e entrados no novo ano, não sem antes se ter deglutido as tradicionais passas, qual gesto eivado de superstição e elo de intercessão para o favorecimento divino dos sonhos e anseios pessoais, familiares e comunitários, eis-nos novamente entregues às vicissitudes do devir existencial.
Pelos pensamentos e sentimentos expressos percebemos, nas pessoas e pelas notícias, certa apreensão e desconfiança do que o futuro, a médio e a longo prazo, nos pode vir a trazer, pela crise que se abateu sobre nós, provocada e agravada pela pandemia do SARS-CoV-2, não obstante se ter iniciado já a administração da vacina.
O País hoje vive exaurido e desencantado, e talvez até farto, não tanto por algum excesso festivo, mas pelas perspetivas que se abrem, sobretudo aos mais novos, de precariedade, de escassez de oportunidades e de hipóteses de emprego e, aos menos novos, pelo desemprego e dificuldades económicas das empresas e das famílias, após tantos anos de luta contra outras crises, a financeira, a da austeridade e agora esta!
No novo livro que o novo ano abriu para ser escrito, gostávamos que nas suas páginas, sobretudo pelo Governo da nação, fossem escritas respostas aos problemas estruturais do País, como por exemplo os relativos ao aumento da produtividade da economia portuguesa e ao apoio às empresas que impulsione a sua atividade, os que advém dos atrasos na justiça para que ela seja mais célere e responda a todos os cidadãos e àqueles que dizem respeito à sustentabilidade da segurança social.
Outras respostas ainda se podem apontar como de concretização inadiável, como a reforma do sistema político para resolução do afastamento dos cidadãos da vida política, para melhoria das condições de governabilidade e para a reforma do sistema eleitoral onde a proporcionalidade deveria ser conjugada com a uninominalidade maioritária.
Gostávamos também que as listas de espera na saúde, a estratégia de integração de imigrantes, a resolução de algumas questões ambientais obtivessem respostas e, em especial para Bragança e o nosso nordeste transmontano, fossem tomadas medidas efetivas e não meramente simbólicas, de investimento público, de não só preservação mas de aumento do emprego, de combate ao declínio demográfico e às questões associadas à falta de natalidade e a melhoria da oferta e da qualidade de alguns serviços públicos.
Nós devíamos ter oportunidade de debater mais estes problemas nacionais e estas questões que nos mantêm amarrados a esta cepa torta de não ver avanços quase nenhuns que além de ser cansativa é destrutiva e que já consumiu tantas e tantas gerações e tantos anos da vida dos portugueses.
Estas é que seriam também as questões que gostava de ver respondidas pelos candidatos a Presidente da República e não questões de lana caprina que assistimos nos debates televisivos e na arena política atual.
Apesar de tudo, não estamos cansados de desejar o melhor e de continuar a defender que no nosso País haja capacidade de dar resposta às expetativas, às ambições e aos talentos dos portugueses porque, não obstante um novo ano, mantém-se o bom hábito de continuamos exigentes em relação à Democracia portuguesa.

Edição
3814

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