A opinião de ...

Seres esperantes

Na circunstância de acompanhar alunos finalistas de 12.º Ano do Agrupamento de Escolas Miguel Torga de Bragança, ao Vaticano e a Roma, em tempos de quarta-feira de cinzas e início da Quaresma, deparei-me mais proximamente com a Esperança.
Primeiro, não só como inquietude face a algumas situações que vivemos hodiernamente no mundo, pela saúde do Papa Francisco, pela agitação acelerada da geopolítica internacional e da democracia nacional, mas principalmente como um elemento-chave do caminhar existencial de cada pessoa, minha, dos colegas e dos alunos, como Homo viator.
Assim é, pois todos nós conjugamos o futuro constantemente porque nele vemos o espaço de concretização dos nossos anseios.
Na verdade, ao estar com estes alunos e colegas professores, também em sentido de peregrinação jubilar, atravessando literalmente as Portas Santas e, em compreensão simbólica espiritual deste gesto, descortinando como que uma vontade de renovação interior, que tem o seu ponto de partida em estar em paz com Deus, em reconciliarmo-nos com os irmãos, em restaurarmos em nós próprios tudo aquilo que foi errado no passado, para retomarmos uma vida segundo o Evangelho, reforcei a convicção de que a Esperança é mesmo fundamental na vida de qualquer pessoa.
Não tanto e só como horizonte da vida eterna, mas mais na nossa qualidade de seres antropologicamente aspiracionais, como seres esperantes, em que a nossa espera encontra a sua realização plena no transcendente, em Deus, como Aquele que nos propõe um caminho, nos orienta e até nos dá sentido.
Aliás, como nos apresenta o relato bíblico de Abraão “sai da tua terra e vê a terra que te mostrarei”, baseada numa missão e numa promessa.
Daqui a diferença e o salto entre espera e esperança que não é o mero cumprimento dos desejos próprios ou de que tudo vai correr bem, mas numa dinâmica de aspiração mais profunda com pretensão de infinitude.
Foi isso que descobri no rosto e no sentir destes Alunos, nas Basílicas de S. Pedro, S. João de Latrão, em Santa Maria Maior (e já agora em frente à Casa de Santa Marta, residência do Papa Francisco desde 2013, visita proporcionada pelo Pe. José Luís Pombal).
Contudo, verdadeiramente só Deus sabe as maravilhas que acontecem nos corações humanos quando estes se abrem à Sua graça...
Por tudo isto, fez-me sentir como fundamental que no processo educativo atual haja lugar e este cuidado de realizar uma educação mais propositiva da Esperança, que vá ao encontro da descoberta da própria vocação de cada pessoa do Aluno, numa leitura da realidade que vai mais além dos anseios primários, com o compromisso de sintonizar, acompanhar e fazer descobrir as suas forças e as suas debilidades em ordem à realização plena do seu ser.
Temos de ter mais salas de aula de esperança e menos de espera!

Edição
4028

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