A opinião de ...

Bom senso e vergonha alheia

stive, recentemente, no Centro de Saúde de Vila Flor a acompanhar um familiar que ali ia receber a primeira dose da vacina para a Covid 19. Apesar da exiguidade das instalações e das regras de distanciamento, rigorosamente cumpridas, estava, antes das nove horas, tudo perfeitamente organizado para que às nove e meia se desse início à vacinação, como estava previsto. Contudo, não obstante o empenho, dedicação e esforço de todos os profissionais do Centro de Saúde, destacados para esta delicada e importante operação, pouco tempo depois das nove, ainda antes do início da inoculação já começava a confusão que, a muito custo, se evitava que se transformasse num caos completo.
Só a chegada de um número muito superior ao habitual às instalações hospitalares seria suficiente para colocar sob pressão a capacidade organizativa dos responsáveis no terreno. O Centro de Saúde não está, nem era lógico que estivesse, capacitado para receber tanta gente pois não é esse, nem de perto nem de longe, o número médio diário dos seus utentes. Por causa das condições de armazenamento, em ultra congelação e consequentes operações de preparação, a operação de vacinação exige a marcação rigorosa temporal para, garantindo a aplicação nas condições ambientais, igualmente assegure que nenhuma dose é desperdiçada. As pessoas (todas com mais de oitenta anos e, como tal, na sua maioria acompanhadas) têm de chegar antes, para serem instaladas nas cadeiras que lhes estão reservadas e, por exigências médicas de segurança, só podem abandonar o local meia hora depois de receberem a respetiva dose. Dada a natural dificuldade de mobilidade, quase todos os utentes chegam de carro, entupindo, só com isso, o exíguo parque de estacionamento que, nos dias normais, é perfeitamente suficiente. Acrescente-se a este início de confusão, a chegada das pessoas do ciclo seguinte que, igualmente por dificuldades motoras, vieram mais cedo e que, obviamente, só podem tomar lugar quando as que ali estão saírem. Sendo todas idosas, não podem esperar de pé e não há cadeiras suficientes nem espaço para tanta gente! Foi necessário improvisar, inventando uma sala de espera que, obviamente, não chega para as solicitações. O bloqueio da via (muitos carros particulares, autocarro da autarquia e ambulâncias espalhavam-se quase anarquicamente pelo pouco espaço público disponível) dificulta a saída dos que terminam e complica a tarefa de chegada dos que aguardam a sua vez. Aumenta a confusão! Acrescente-se a existência de cidadãos que apesar de contactados não comparecem e só informam dessa sua decisão após um novo e último contacto telefónico.
Haverá razões médicas, científicas ou de segurança, para que esta operação se faça ali e não noutro local mais espaçoso, com um parque maior e melhor acesso? Não. As razões são “apenas” burocráticas. A administração do Centro de Saúde decidiu que a vacinação se fizesse nas suas instalações apesar de a autarquia ter disponibilizado, para o efeito, um pavilhão gimnodesportivo, amplo, bem situado e com largo espaço de parqueamento. Que razões pode haver para não atender ao simples critério do bom senso? E quando houver necessidade de aumentar o ritmo de vacinação? Vai continuar a injustificada teimosia?

Fiquei envergonhado ao saber que havia quem protestava pelo facto de haver, no contingente que nos cabe, uma reserva de um milhão de vacinas para os países de língua oficial portuguesa. Não faltando motivos para sermos solidários, este é um dos melhores. Este milhão não nos faz falta (encomendaram-se vacinas a mais para aumentar a quota entregue nos primeiros tempos) e é-nos muito útil. Qualquer lugar sem vacinas (ou com deficit delas) é um paraíso para o aparecimento de variantes mais resistentes ameaçando os atuais resultados e até a eficácia das vacinas já desenvolvidas.

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