A opinião de ...

Como se faz um fresco?

No último artigo [MB. 3838, 29], “arte nova no Adro da Senhora da Veiga”, em Alfaião, falei dos painéis, que aí se pretendem pintar sob a “técnica por excelência da pintura mural”, o fresco e, como esta está envolta em alguma dificuldade, com segredo à mistura, resolvi investigar.
A pintura a fresco [no italiano “buona fresco” = “boa nova”] é uma técnica que faz uso das tintas de pigmentos, feitos à base de terra, vegetais e, minerais, que emprestam a cor à cal húmida, sem mais nenhum agente de ligação. A cal absorve a tinta e, esta ao endurecer protege-a da erosão e, não lhe deixa perder a cor, graças às suas propriedades.
A complexidade deste método, quer na preparação, quer na execução, fez com que ele caísse em desuso e, nas igrejas e capelas, do Nordeste Transmontano, não se usa seguramente há mais de 500 anos, veja-se a última redescoberta do fresco da capela da Senhora do Areal, em Agrochão, Vinhais [MB. 3387, 16, 17]. Hoje, ressurge novamente o interesse por esta técnica pictórica e, alguns artistas executam-na, pelo exercício do virtuosismo técnico, pelo prazer de pintar, pela durabilidade [“virtualmente eternas”] e, pela beleza ímpar das suas cores.
É fundamental que o muro esteja nas melhores condições, bem como a preparação das camadas sobrepostas. Cada camada tem um nome, distintas qualidades e, funções:“trulisatio”, “arrisiato”, “intonaco”. A primeira camada é a mais profunda e rugosa, a segunda de um grosso intermédio e, a última mais polida e delgada. Estas camadas são aplicadas por etapas, uma por dia, em três dias sucessivos.
Algumas técnicas e artistas, como a que se descreve, utilizam pelo de cabra, ou cabelo humano, na preparação das duas primeiras camadas, ora vejamos.
O “trulisatio” mais rugoso, leva pelo de cabra, ou cabelo humano, para fazer rede entre materiais, para lhe dar mais consistência e aceitar a camada seguinte, levando ainda grão de areia de 1mm.
O“arrisiato” leva os mesmos materiais, mas mais delicados, tratando-se de uma cobertura mais fina, não só quanto aos materiais, mas também na aplicação sobre o muro.
O “intonaco”, terceira e última capa, já sem rugosidades leva cal moída. A esta última capa chama-se pintura mural mexicana, ou reboco e, é sobre este que se pinta o fresco. Este meio, sobre o qual se pinta, chama-se também o branco de São João. Esta capa tem de estar fresca, enquanto se pinta e, o trabalho vai-se fazendo em pequenas seções e, não logo sobre a parede toda. Os grandes mestres, como Miguel Ângelo, não permitiam que o gesso secasse, se acontecia retiravam tudo e, faziam o trabalho de novo. A pintura faz-se sobre o “intonaco”, em “giornatas”, termo de comparação com a duração da jornada de trabalho, que dura apenas enquanto esta camada estiver fresca, em média 5 a 8 horas, dependendo do clima e, da temperatura do mesmo.

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3840

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