Armando Fernandes

 

 

E agora, Senhor Presidente?

A distinção era esperada. Atrevo-me a escrever: nem de outra forma podia ser. Consumado o desejo de infância, a maioria dos portugueses sonham um Presidente da República atento, sereno, seguidor do rei Salomão nos juízos, equidistante das pulsões partidárias, apagando a acusação de possuir o fulgor da fácil troca de opinião.


O Ano intranquilo

De que falam os políticos, eles praticantes exímios do muito falar sem dizerem nada, sobre o futuro da Europa, do nosso futuro? É esse o objectivo deste artigo, que não poderá deixar de se orientar por um ponto de vista, o de Portugal.
Descansem os leitores não vou usar muletas de nenhuma espécie, referir siglas, socorrer-me de frases, palavras, vírgulas e pontos de outrem. Apenas palavras esticadas e curtidas no meu modesto e repleto de abrolhos quintal literário.


Do Ano Velho

Apenas os bafejados pela sorte nos jogos da Santa Casa têm motivos para estarem gratos ao ano ora findo. Nem os sportinguistas lhe ficam agradecidos, nos derradeiros dias do seu reinado perderam o ceptro de campeões de Inverno.


O Presépio da Sé

De um dia para o outro, no fundo da nave, nascia o Presépio, na modesta Sé, a nossa, de Bragança. Feito em declive, no cimo uma marulha a resguardar o palácio de não sei quem, poderoso, talvez do débil Herodes o mandante da execução de S. João Batista, depois apareciam anjos, querubins, pastores e rebanhos a esmo, no carreiro mais elevado os Reis Magos e magros, no horizonte a estrela azul e dourada e mais anjos.


Duetos

A soprano Laura Pausini canta num musical pop. Há dias deu uma entrevista a explicar a causa, acrescentando não querer duetos de alguns quando morrer. Duetos sim, mas apenas de quem ama e gosta. Gosto de duetos de qualidade, gosto de Laura, obrigando-me a gastar euros a fim de a ouvir e ver. Depois de morto morri, além de não esperar árias ou canções apesar de amigo canto lírico.
De duetos guardo na memória vários, a tecnologia cometeu a proeza de misturar as vozes de mortos e vivos, caso da família King Kole.


A Europa?

Por norma não escrevo sobre acontecimentos internacionais na justa medida de que a velocidade das comunicações colocam os jornais das regiões em desvantagem. No entanto, no plano das ideias o figurino é outro, razão porque de quando em vez ouso fazê-lo correndo o risco de aos costumes dizer nada.


Finados

No dia 2, ao fim do dia, terei, como tantas outras gentes, dentro de mim, um vazio. Nada. É o dia de Finados, a lembrar a finitude ou a certeza de nada haver de maior certeza para todos. Todos.
A Morte não dorme, só nos contos de contar nas longas e frias noites de Inverno. Agora, só se menciona a Esquálida nos noticiários, no tempo exacto da menção estatística, alargado até à náusea se estiver em causa vedeta maior desta sociedade de espectáculo, leia-seDebord.


Marcelo

Antes de ser já o era: candidato. Ciosa e meticulosamente Marcelo andou anos a preparar a candidatura, embora possa parecer o contrário. Se o leitor desconfiar desta opinião faça o favor de ler um texto do famoso comentador inserido na obra – Adriano Moreira, Biblioteca em Bragança – e descortinará veios de construção da mesma, pois ao elogiar Adriano Moreira estende a hossana a ele próprio e ao pai Baltazar.


A Ratoeira

Apetece-me escrever e escrevo: os resultados eleitorais de domingo podem transformar-se numa ratoeira mortal para Passos Coelho. Apetece-me escrever e escrevo: a derrota de António Costa, a médio prazo pode-lhe render pingues lucros, reduzindo a cinzas a tenaz que está a ser construída pelos adversários, unindo socráticos e seguristas. Apetece-me escrever e escrevo: o Presidente Marcelo marcará novas eleições legislativas no início do próximo Verão, época calmosa propícia a mergulhos escalafriantes.


Assinaturas MDB