Armando Fernandes

 

 

Bragança Municipal

Acabo de receber o Boletim Municipal relativo ao primeiro semestre do ano. Em bom papel, profusamente ilustrado, relata e revela os acontecimentos mais importantes na óptica da governação acontecidos no concelho. Propaganda pode dizer o opositor político. Pode.
Relativamente à propaganda e sua eficácia abundam tomos densos e difusos, só que no caso em apreço os factos relatados são indesmentíveis, pode-se não concordar, não se pode ignorar a sua concretização.


Nó Cego

Aqueles gritos lancinantes ainda ecoam no meu cérebro. Gritos repetidos, de sonoridades diversas, uivados até. Mulheres e homens os soltaram em dias sucessivos durante a praga dos incêndios, a recordarem outros idênticos, em anos anteriores.


Burkas invisíveis

Ela foi bonita, insinuante, batia o tacão a preceito. Encontrei-a há dias num espaço livreiro lisboeta. Sacões de surpresa no santo-e-senha do reconhecimento, ela ruiva carregada, eu detentor de farripas mal distribuídas. Canosas.
Ao redor de mesa de tapas falámos dos dois, de percursos, de afectos, do roer do tempo ainda na caixa da via. Tapeação concluída, beijinhos meneados, adiciono ao ritualizado adeus o som imaginário da canção Adeus Roma, versão Dean Martin. Ficou o dito, a continuação será ou não.


Húmus

Devo ao notável escritor Raul Brandão o favor de me ter levado ao encontro com a palavra húmus. O formidável prosador escreveu uma obra intitulada Húmus. A mesma obra num País exigente e interessado na aculturação dos seus filhos não a deixaria de fora nos programas escolares de todas as Escolas, todas, os escritores, jornalistas e os colaboradores dos órgãos de comunicação social que prezam a língua portuguesa, obrigatoriamente, da obra do reputado homem de letras, pelo menos, leem Húmus.


O licantre

Se o licantre te morder, vai ao padre que te cante. Assim o enuncia o rifão. Nunca vi nenhum, nem estou interessado em ver. Desde menino sei da sua existência por intermédio da minha Avó materna, a qual me contava contas (histórias) onde o licantre ou licranço traiçoeiro mordia sorrateiro e ao mordido só restava encomendar-se ao Padre.


Sinais de Fogo

O eclético e sofredor Jorge de Sena legou-nos um romance inacabado cujo título é o desta crónica pois os sinais de repetição da tragédia iniciada em 1936, Guerra Civil de Espanha, a prenunciar o conflito mundial, na minha visão do Mundo politico de agora e a da Europa nessa época são muito parecidos. A parecença inquieta-me.


Ganhámos! E agora?

Acabado o prélio futebolístico os canais televisivos procuram engodar as audiências sem saírem do tema do pontapé na bola, a indústria multiplica as fórmulas de o fazer, o campeonato não tarda, as fogueiras clubísticas dispõem de grandes quantidades de lena para consumir de noite, de dia, à hora do meio-dia. Nem o império de Carlos V.


O ovo da serpente

Apesar deste tempo de descrença e desordem de costumes fiquei surpreso quando um estimado amigo, alta patente militar, possuidor de condecorações por feitos e ferimentos recebidos em combate exclamou: estamos a precisar de firmeza na Europa!


O Verão

Pediram-me um texto sobre o Verão para publicação na revista bilingue INTER. Satisfeito o pedido, fiquei insatisfeito porque julgo não ter salientado os lados menos visíveis ou dando a ver/ler o escondido nas rugas e folhos da estação calmosa.


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