Entrevista a Orlando Rodrigues, presidente do Instituto Politécnico de Bragança

“O IPB é, claramente, uma instituição muito reconhecida, a nível nacional e internacional, e isso também se traduz na procura”

Publicado por António G. Rodrigues em Sex, 2022-09-16 13:51

Mensageiro de Bragança: Que balanço faz desta primeira fase do concurso nacional de acesso ao Ensino Superior?

Orlando Rodrigues: Faço um balanço positivo. Pelo quarto ano consecutivo aumentámos as colocações nesta primeira fase. Este ano tivemos 1152 colocados, subimos 78 alunos face ao ano anterior, o que é uma subida significativa e muito acima da média nacional.

Já no ano passado subimos quando o número de colocações desceu a nível nacional. Este ano aumentou 0,9 por cento. Portanto, tivemos esse aumento muito expressivo de quase oito por cento, o que é um motivo de satisfação.

Também as notas dos alunos colocados subiram, de forma genérica, em todos os cursos. Temos muitos cursos que ocuparam todas as vagas disponibilizadas para o concurso nacional de acesso e, portanto, estamos convencidos que a segunda fase também correrá bem. Por outro lado, os concursos locais e os concursos dos alunos internacionais que, como já vem sendo tradição, têm uma procura muito elevada.

Temos as vagas para os alunos internacionais condicionadas às vagas do concurso nacional de aceso e, portanto, temos de ter muitas vagas nos concursos nacionais para podermos ter vagas nos internacionais.

Nestes temos uma procura muito alta, ainda que tenhamos vindo, em função de parcerias, a procurar disciplinar um pouco essa procura, que é muito alta. Temos mais de cinco alunos por cada vaga disponível.

Por isso, podemos transferir para esses contingentes o que não ocuparmos no concurso nacional de acesso. É o que tem vindo a ser feito e, nessa medida, a generalidade dos cursos ficará completa.

 

MB.: O que representa para si este aumento de procura pelo IPB?

OR.: É, obviamente, um sinal de satisfação de verificarmos que a nossa perspetiva, de trabalharmos e sermos úteis para a região, se traduz num aumento da notoriedade nacional e internacional da instituição e da sua capacidade de atração de alunos. As duas coisas estão ligadas.

Temos procurado desenvolver muito as nossas capacidades científicas, sempre ajustadas às necessidades da nossa região, mas sempre numa perspetiva de sermos competitivos a nível internacional.

Esse caminho tem vindo a dar frutos e o Instituto Politécnico de Bragança é, claramente, uma instituição muito reconhecida, a nível nacional e internacional, e isso também se traduz na procura.

Obviamente que temos este fenómeno, que nos afeta a todos, de litoralização do país, e que é muito difícil de combater nesta questão da atração dos alunos mas que temos vindo a combater com sucesso.

 

MB.: Mas acha que já começam a cair alguns preconceitos relativos às instituições do interior do país?

OR.: Seguramente sim. A nível internacional mais ainda. A nível internacional, em algumas áreas, temos uma relevância muito grande. Estamos nos rankings internacionais, como é bem sabido, que são a tradução da notoriedade do nosso trabalho a nível internacional. Nalgumas áreas estamos em posições muito cimeiras e isso traduz-se na atração de alunos internacionais.

Temos muita procura de alunos internacionais para fazerem investigação e doutoramento connosco. As nossas unidades de investigação estão a atrair muito emprego científico, de elevadíssima qualidade.

Nalgumas áreas temos uma posição internacional muito relevante. Por exemplo, na área da tecnologia e ciência alimentar temos vindo, continuamente, a melhorar as nossas posições internacionais e estamos entre as 30 instituições internacionais que mais impacto têm nessa área.

Por exemplo, no desporto de alta competição, um dos nossos investigadores tem vindo a ser reconhecido como o investigador mais influente a nível mundial no desporto de alta competição relacionado com a natação. E em diversas outras áreas como as ciências agrárias, o digital e muitas outras.

São áreas que nos têm dado um reconhecimento mundial muito importante e isso traduz-se na procura dos nossos alunos.

 

MB.: Tem ideia se os candidatos que entraram este ano vieram, sobretudo, em primeira opção?

OR.: Ainda não temos essa informação. A única forma que temos é ver um a um. Mas pelos poucos que analisámos, a nossa perspetiva é que tenha aumentado o número de candidatos colocados em primeira opção, assim como aumentaram as notas dos últimos colocados na generalidade dos cursos.

 

MB.: E a maioria dos candidatos vem da região ou de outras zonas?

OR.: Neste momento não temos esses indicadores mas supomos que não será muito diferente da tendência dos anos anteriores. Um terço será da nossa região (Trás-os-Montes). Os outros dois terços serão, maioritariamente, da região norte. É de lá que recrutamos a maioria dos nossos alunos, sobretudo nos distritos do Porto e de Braga.

 

MB.: Com este crescimento tão acentuado, em que nos últimos quatro anos se passou de sete mil para mais de dez mil alunos, é necessário haver alguma adequação nas infraestruturas?

OR.: Sim, neste momento são a nossa maior limitação. O alojamento estudantil é um problema. Temos, neste momento, aprovado, no âmbito do PRR (Plano de Resiliência e Recuperação) uma candidatura para fazer vários edifícios. Estamos em fase de análise de propostas dos projetos para lançar a empreitada ainda este ano.

Será uma residência aqui em Bragança, com cerca de 200 camas, duas em Mirandela, que nos vão permitir ter uma capacidade à volta das 200 camas, e outra residência em Chaves.

Candidatámos mais mas, infelizmente, não foram todas aprovadas. Ainda assim, tivemos uma taxa de aprovação muito alta no contexto nacional e isso vai permitir mitigar um pouco essas necessidades e melhorar a nossa competitividade, oferecendo alojamento de qualidade.

Em termos de infraestruturas, o nosso maior problema são as instalações para a Escola de Saúde, que estamos a procurar resolver e a tentar encontrar uma via de financiamento, uma vez que é um investimento muito avultado, mas estamos convencidos que iremos conseguir resolver isso nos próximos anos.

Temos muitas outras necessidades, em particular para dar cobertura a todo este crescimento que temos tido em termos científicos e de novos investigadores. Precisamos de criar instalações para acolher os nossos investigadores e as nossas atividades de investigação. Nos próximos anos trabalharemos no crescimento dessas infraestruturas porque elas são críticas para o nosso desenvolvimento.

 

MB.: Ao certo, onde serão construídas as residências?

OR.: Uma será construída junto às estufas, em Bragança, na parte superior daquele terreno. Em Mirandela estamos à espera de autorização para comprar o hotel Mira Tua, que vamos transformar em residência, e também vamos construir outra no campus da escola.

 

MB.: Quando poderão essas estruturas estar concluídas e entrar ao serviço?

OR.: Uma vez que pretendemos lançar a empreitada até ao final deste ano e ter adjudicada a obra, não teremos um prazo de construção inferior a um ano. Talvez daqui a dois anos letivos ter as duas residências disponíveis.

 

MB.: Qual o valor do investimento?

OR.: Ronda os 12 milhões de euros, no total.

 

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