A opinião de ...

Luís Amaro

No dia 24, morreu o eminente bibliófilo, pesquisador, investigador e poeta Luís Amaro, aos 95 anos de idade. Durante anos cumprimentei este Homem discreto, educadíssimo, sem saber ao certo quem ele era. 
Trabalhava na Revista Colóquio-Letras, eu estava a amiúde na sede do Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas, os dois serviços instalados no prédio 56, da Avenida de Berna. Só debaixo da simultânea direcção da Revista e das Bibliotecas, por parte de David Mourão-Ferreira, é que cheguei à fala circunstanciada com ele. Devo a DMF a dádiva.
O ora falecido «sabia tudo» acerca do universos dos livros: edições e editores, autores, ilustradores, enfim…Tudo. Era generoso e disponível, algumas vezes necessitei do seu auxílio, no dia imediato ao pedido entregava ou mandava entregar-me fotocópia do solicitado, acompanhada de amável cartão de cumprimentos. 
Várias vezes ouvi rasgados elogios a Luís Amaro de membros da Comissão de Escolha de Livros do Serviço onde trabalhei durante trinta e nove anos, figuras salientes do nicho literário do calibre de Álvaro Salema, Guilherme de Castilho, Álvaro Manuel Machado, José Palla e Carmo, entre outros. As minhas amigas Joana Varela e Maria Filipe Ramos Rosa prodigalizavam-lhe ternuras, ele retribuía a acrescentava juros em forma de sugestões visando o aperfeiçoamento da tão importante arca cultural, os reparos fazia-os de modo a não serem entendido como tal, nos antípodas do raspanete, sim na natural extensão do seu labor sem horário e crivos burocráticos.
Faltam-me instrumentos de análise e conhecimentos a fim de apreender quão profunda foi a sua acção no desatar de nós no emaranhado novelo literário, quantas destrinças relativas a pseudónimos, colaborações deste e daquele, vaidades, sobreposições e vestimentas abusivas dentro do provérbio – quem o alheio veste, na praça o despe -, e não estou a referir-me a plágios. 
No século XIX, avulta o nome de Inocêncio Francisco da Silva como formidável bibliógrafo. O Inocêncio, significa um Dicionário, um dicionário monumental que os senhores professores deviam utilizar e aconselhar os seus alunos a procederem da mesma forma. Eu poso correr o risco de receber a acusação de atrevido ao comparar Luís Amaro a Inocêncio, mas corro-o.
A Internet a par da nossa preguiça intelectual em saciarmos a curiosidade no conhecermos a causa das cousas conduz às generalizações apresadas, além disso as comparações são odiosas, apesar disso mantenho, Luís Amaro é digno discípulo de Inocêncio. 
Hesitei na acuidade em publicar esta singela prova de admiração pelo distinto intelectual (palavra que tem estado em desuso), corre-se sempre o perigo de o leitor considerar o escrito como vaidade de quem escreve, porém o perigo vive connosco, o essencial é termos consciência disso mesmo. Luís Amaro justifica plenamente a possível maledicência.
PS. Presumo que a Imprensa Nacional/Casa da Moeda colocou nas Bibliotecas Escolares o tão famoso como escondido Inocêncio

Edição
3694

Assinaturas MDB